Resenha: A regra é não ter regras
"Nunca houve uma empresa como a Netflix. De um serviço de locação de DVDs por correio a uma superpotência de streaming, em vinte anos a companhia se tornou um dos principais nomes das indústrias de entretenimento do mundo. Com mais de 180 milhões de assinantes em 190 países e uma receita anual de bilhões de dólares, a Netflix causou uma verdadeira revolução com sua filosofia corporativa nada convencional. Cofundador, presidente e CEO da empresa, Reed Hastings se une à especialista no mundo dos negócios Erin Meyer para falar pela primeira vez sobre a cultura que transformou a marca em um exemplo inigualável de criatividade e adaptação.
A partir de centenas de entrevistas com funcionários da Netflix e relatos nunca antes compartilhados, Hastings explica como seus princípios controversos fizeram da Netflix um exemplo de inovação e sucesso global. Uma obra fascinante sobre uma empresa que desafiou tradições e expectativas e dominou as premiações do cinema e da TV, além do imaginário de milhões de pessoas, uma tela por vez."
FICHA TÉCNICA
Título: A regra é não ter regras
Autores: Reed Hastings e Erin Meyer
Ano: 2020
Páginas: 352
Idioma: Português
Editora: Intrínseca
Nota: 4
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LIVRO CEDIDO EM PARCERIA COM A EDITORA
O livro é escrito por Reed Hastings, CEO da Netflix, e Erin Meyer, autora e especialista em análise de negócios. A regra é não ter regras traz uma rápida contextualização a respeito da história da Netflix e como ela se tornou uma das maiores e mais importantes empresas globais. Entretanto, o livro é bastante direcionado para empreendedores que estão em cargos de liderança e/ou pessoas responsáveis por gerenciar funcionários em uma empresa. Isso porque o foco do livro é mostrar como algumas diretrizes podem ser fundamentais para mudar o comportamento de uma empresa diante do mercado e, principalmente, a cultura organizacional como um todo.
“Na Netflix, deixar de falar quando você discorda de um colega ou tem um feedback que poderia lhe ser útil é o mesmo que ser desleal com a empresa. Afinal, você poderá ajudar os negócios - mas está optando por não fazer isso.” Página 43
“Liberdade com Responsabilidade” é a expressão usada lê-los funcionários da Netflix para descrever a cultura da empresa. Segundo os autores, é esse pensamento responsável por um nível de agilidade e inovação que a maior parte das empresas não é capaz de igualar. Para alcançar essa cultura é necessário seguir três ciclos, com nove passos no total, como se fossem etapas a serem seguidas para alcançar o nível Netflix de trabalho e excelência. Os nove primeiros capítulos do livro cobrem essas etapas e o décimo analisa o impacto dessa forma de pensar e estruturar em culturais nacionais.
Os capítulos são curtos e breves, bem objetivos, cada um dedicado a uma das etapas mencionadas. Ao final, temos um espaço reservado para as lições de casa capítulo e um gancho para o capítulo/etapa seguinte. A regra é não ter regras é um verdadeiro guia para quem tem interesse em abrir a mente e entender melhor como tudo pode ser aplicado no ambiente de trabalho.
A princípio pensei que o livro seria sobre a história da Netflix, mas é um livro com um propósito mais corporativo uma vez que analisa mais as estratégias empresariais tomadas pelos líderes da empresa do que a história em si. O que torna esse livro bem de nicho.
Muitos leitores têm dificuldade para se sentirem envolvidos por livros de não ficção, mas A regra é não ter regras, mesmo tendo um público bem definido, é um livro que pode ser facilmente absorvido mesmo por quem não tem o hábito de escolher esse gênero como favorito. Isso porque as temáticas abordadas no livro podem gerar uma identificação no leitor uma vez que, muito provavelmente, ele estará inserido no mercado de trabalho de alguma forma, seja como empregador ou como empregado.
A regra é não ter regras apresenta algumas das políticas e condutas adotadas como políticas empresariais pela gigante do entretenimento: a Netflix. O livro tem como objetivo analisar essas escolhas e como elas impactaram diretamente o dia a dia da Netflix, a rotina de seus funcionários e o crescimento dessa gigante. São apresentados alguns exemplos e cases de funcionários e momentos específicos e a forma como a empresa lidou com eles ou aprendeu com eles.
Erin Meyer traz um contraponto e uma opinião própria a respeito dos temas abordados por Reed Hastings, o que é uma estratégia interessante e que eu particularmente nunca havia visto antes. Isso porque, em determinados momentos, ela discorda de algumas ações ou faz provocações que podem ir na contramão de sugestões feitas pelo CEO.
O livro traz algumas das políticas da Netflix como a cultura do feedback, a política de remoção do controle de férias e aprovações de viagens e despesas, a tática de pagar os melhores salários do mercado, encorajar os funcionários a não pedir permissão dos chefes para tomar decisões, falar abertamente sobre erros e fracassos para evitar repeti-los, dentre muitas outras que são desenvolvidas ao longo de pouco mais de 300 páginas.
Um ponto interessante e que resume bem o pensamento por trás de todas as políticas da Netflix é a seguinte frase, usada pelo próprio CEO em determinado capítulo: “A vida real é muito mais cheia de nuances do que qualquer política jamais seria capaz de compreender.” E é com esse pensamento que Reed Hastings trabalha a questão da liderança ao longo de todo o livro, como uma pessoa por trás do cargo e como um gestor de uma das maiores e mais conhecidas empresas do mundo.
“Dar mais liberdade aos funcionários os levou a assumirem um maior senso de responsabilidade e a se comportarem com mais adequação. Foi quando Patty e eu cunhamos o termo “Liberdade com Responsabilidade”. Não se trata apenas de precisar de ambas as coisas; uma leva à outra. A ficha começava a cair. A liberdade não é o oposto da responsabilidade, como eu pensava. Ao contrário, é um caminho para atingi-la.” Página 82
O livro também traz algumas curiosas bem breves sobre a concepção de algumas séries como Stranger Things e Narcos, mas não no sentido da produção e sim como essas ideias foram concebidas dentro a política empresarial e comportamental da Netflix. São apresentadas como cases de sucesso das medidas adotadas pelo CEO e os funcionários e causam impacto na hora de assegurar que algumas dessas ideias, por mais loucas e pouco convencionais que possam parecer, acabaram gerando alguns dos maiores sucessos da Netflix.
Acredito que um dia capítulos mais interessantes seja o da expansão cultural da Netflix mundo agora, e isso é representado não apenas em fatos e dados que mostram o crescimento da empresa mundialmente, mas também no trato e na comunicação com funcionários das mais diversas culturas. É interessante pensar em como, ao adotar uma política de adaptabilidade e flexibilidade, a Netflix mostra como é possível se abrir para contribuições vindas de pessoas com as mais diversas bagagens culturais e como isso contribuiu para que ela seja uma empresa tão aceita e querida no mundo inteiro. O Brasil, inclusive, é citado algumas vezes nos cases de funcionários e contribuições estatísticas e culturais.
O próprio Reed Hastings, sua história e sua forma de se comunicar me remeteu bastante aos personagens da série Billions e toda a questão do sonho americano e a cultura do “pense mais, pense maior” dos estadunidenses. Mesmo que o livro apresente de forma bem rica algumas políticas que poderiam e, talvez, deveriam ser adotadas por diversas empresas, ainda é preciso ter cuidado porque existe uma cultura de precisar sempre fazer valer o melhor salário do mercado, a realidade de temer, de forma constante, a falta de estabilidade, além de vários discursos que podem acabar reforçando uma cultura capitalista agressiva. É um livro que, ao meu ver, serve de ferramenta valiosa para gestoras e empreendedores, mas é preciso ter em mente os próprios valores da sua empresa e/ou do seu negócio e como você quer, honestamente, que seus funcionários se sintam.
Além disso, é preciso ter em mente que A regra é não ter regras é um livro escrito pelo CEO da Netflix para exaltar a cultura da reinvenção da própria empresa. Tudo parece ser dito e apurado de forma bem honesta, mas em um mundo pautado pelas bolhas é sempre importante salientar que o leitor deve absorver as informações de forma crítica e ativa.
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“Na Netflix, estamos sempre debatendo nossa cultura e esperando que ela evolua continuamente. Para desenvolver uma equipe inovadora, rápida e flexível, deixe as coisas um pouco soltas. Dê boas vindas às mudanças constantes. Opere um pouco mais perto do limiar do caos. Não distribua partituras nem monte uma orquestra. Trabalhe para criar condições como no jazz e contrate funcionários que desejam fazer parte de uma banda de improvisação. Quando tudo se encaixa, a música é linda.” Página 323
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