Resenha: Frank e o Amor

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 Fazia algum tempinho que eu não lia um Young Adult e Frank e o Amor veio na hora certa. Um livro que esconde uma profundidade maior do que aparenta. Uma leitura fácil, sensível e apaixonante sobre o amor, em todas as suas formas. Saiba mais!

"Frank nunca conseguiu conciliar as expectativas de sua família tradicional coreana com sua vida de adolescente na Califórnia. E tudo se complica quando ele começa a sair com a garota de seus sonhos, Brit Means, que é engraçada, inteligente, linda… Basicamente a nora perfeita para seus pais ― caso tivesse origem coreana também.

Para poder continuar saindo com quem quiser, Frank começa um namoro de mentira com Joy Song, filha de um casal de amigos da família, que está passando pelo mesmo problema. Parece o plano perfeito, mas logo Frank vai perceber que talvez não entenda o amor ― e a si mesmo ― tão bem assim."

FICHA TÉCNICA
Título
: Frank e o Amor
Autor: David Yoon
Ano: 2019
Páginas: 400
Idioma: Português
Editora: Seguinte (Companhia das Letras)
Nota: 4/5
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Frank e o Amor é um daqueles livros que nos surpreendem com sua delicadeza e capacidade de promover reflexões das formas mais sutis. O livro é a descoberta de Frankie sobre o amor romântico e o que ele significa em todas as suas nuances. Ele é um jovem confuso e inexperiente que se vê preso na confusão dos próprios sentimentos enquanto tenta decifrar o que ele entende como amor e como o amor se mostra em sua vida. 

"É mais fácil para ela amar - mais simples, menos complicado. Meu amor não é padrão. Exige soluções alternativas.

Mas é o mesmo amor? Isso importa? Não tenho ideia. Nunca me apaixonei."

Frankie é um coreano de segunda geração. Seus pais migraram de Seul para a Califórnia e ele nasceu nos Estados Unidos, mas não fala coreano. É um livro que exalta as diferenças culturais e individuais das pessoas pelos olhos de Frankie, um adolescente que está começando a viver esse processo de entender melhor os adultos como seres humanos falhos e que erram. A maturidade dele começa a aflorar à medida que percebe que seus pais também são humanos e que de vez em quando também cabe a ele tentar fazê-los refletir e questionar suas próprias certezas. 

Frank é um menino que busca pertencimento em uma sociedade e cultura que o obrigam a se enquadrar em padrões que nem ele mesmo entende muito bem. Dilemas e relações familiares também ganham muito destaque em Frank e o Amor. Como um jovem que está começando a ver o fim de sua adolescência, ele sente constantemente que não está à altura das expectativas dos pais e se precisa viver a constante comparação com as escolhas feitas por sua irmã. 

Frank não se sente coreano o suficiente nem americano o suficiente. Além dos dilemas próprios da idade, de um jovem que está saindo da adolescência e entrando na vida adulta, descobrindo o amor e sua própria identidade, ele ainda precisa constantemente se perguntar se existirá um futuro em que ele poderá ser coreano e americano, ou o que quer que ele se identifique, sem a pressão de precisar escolher um lado em uma batalha que não foi criada por ele. 

A Ásia é um continente com uma riquíssima história de conflitos entre os povos que conhecemos hoje e com preconceitos que se mantém atualmente. Acho interessante observar as diversas facetas do preconceito racial e como nós, ocidentais, gostamos de colocar os orientais em uma caixa, ignorando a pluralidade de culturas e até mesmo de preconceitos que existem entre as ricas e diversas culturas dentro da Ásia. 

É um livro extremamente atual sobre a forma como lidamos com o racismo hoje em dia, mesmo que velado, em forma de “brincadeira”. Fala sobre o racismo em relação a pessoas não brancas em geral e discute o próprio conceito do que é ser um “americano genuíno” (no caso, estadunidense).

Gostei bastante de ter acesso à narrativa de Frankie. Gosto da forma como ele pensa, nas analogias que ele usa para exemplificar a forma como ele vê a vida, as outras pessoas e os próprios sentimentos. Seus insights são o ponto alto do livro e não consegui deixar de pensar que ele se tornou um dos meus personagens masculinos favoritos dos últimos tempos. 

"Algo oficial aconteceu entre nós. Dissemos três palavras que poucas pessoas dizem às outras. É difícil definir o que essa preciosa expressão significa. É um pacto, uma declaração. Também é uma espécie de renúncia. Dizer "eu te amo" é o grito dos desamparados. Tudo o que se pode fazer é confessar e torcer por misericórdia." 

Ao final do livro temos uma entrevista com o autor que contém um trecho que resume bem o livro: “a princípio parece uma história fofa sobre um jovem que se apaixona por uma garota na escola (ou que tenta descobrir por qual garota está apaixonado), mas aí percebemos que também é sobre o amor pela família, pelos amigos, e em última instância sobre amar a si mesmo e sua própria identidade”. Nas palavras do autor, ele queria escrever sobre todos os tipos de amor. Segundo o autor, “americanos de ascendência asiática são muito marginalizados nos Estados Unidos quando se trata de representações românticas; por isso sempre enxerguei o amor através das lentes da política, raça é cultura imigrante. O amor nunca existiu isolado num vácuo para mim”. 

Ainda na entrevista exclusiva para os leitores brasileiros, o autor levanta um ponto interessantíssimo que resume bastante um dos olhares que tive ao ler Frank e o Amor. Ele diz que pessoas com diversas origens e bagagens tem a oportunidade extraordinária de enxergar o mundo profundamente de várias perspectivas, mais profundamente do que outras pessoas conseguiriam. E isso é visto de forma bem clara ao longo de toda a leitura, por meio dos pensamentos de Frank, sua forma de ver as situações que enfrenta. Frank é um personagem delicado, sensível, inteligente e interessante e é perceptível como sua própria história contribuiu para a formação de sua personalidade.

Frank e o Amor tem uma linguagem jovem para discutir, por meio de personagens adolescentes, o que vivem os jovens que não são pertencentes à maioria branca. É um livro que eu com certeza irei incluir em um próximo vídeo sobre livros que deveriam ser adotados em escolas porque traz a discussão para um cenário possível de identificação e representatividade.

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"- Sinto como se não pertencesse a lugar nenhum, e todo dia é como se eu vivesse exilado num planetinha esquisito só meu - digo, de uma vez só. É impossível falar sobre isso. Mas me forço a continuar. - Não sou coreano o bastante. E não sou branco o bastante para ser totalmente americano." 

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