Resenha: O Silêncio da Casa Fria
Há algum tempo não lia um livro que me prendesse do início ao fim da forma como O Silêncio da Casa Fria. Um achado da DarkSide que vem para conquistar os leitores sedentos por histórias arrepiantes. Um dos melhores e mais interessantes livros que li nos últimos tempos. Saiba mais!
"Quando Elsie perdeu o marido apenas algumas semanas após o casamento, achou que já tinha sofrido o suficiente para uma vida inteira. Praticamente sozinha em uma casa enorme e isolada, ela jamais imaginou que os companheiros silenciosos — painéis de madeira que imitavam pessoas em atividades cotidianas —, um dia, seguiriam seus movimentos com os olhinhos pintados. Muito menos que eles apareceriam por conta própria em cômodos aleatórios…
Acenda uma vela e nos acompanhe na escuridão. A DarkSide® Books pavorosamente apresenta O Silêncio da Casa Fria, o novo lançamento da linha DarkLove: uma história sombria, sinistra e gelada — um verdadeiro tributo aos romances góticos clássicos que tanto amamos.
Para escrever este livro, a autora Laura Purcell se inspirou em um costume europeu popular nos séculos XVIII e XIX, especialmente entre os ingleses e holandeses. Nele, famílias aristocráticas pregavam peças com tábuas de madeira ricamente pintadas e esculpidas. Criados, soldados, plantas, animais… e, aqui, uma criança estranhamente familiar, com um sorriso travesso e uma rosa branca na mão.
Com uma habilidade narrativa que transporta o leitor para a época vitoriana — e suas densas neblinas, costumes peculiares, a tão presente discussão entre a ciência e o sobrenatural —, Laura Purcell desenrola uma trama cheia de nuances enquanto Elsie vai abrindo as portas da casa para tentar desvendar o mistério dos companheiros — e também do seu passado. O tempo, às vezes, demora a passar no silêncio da casa fria.
Com a atmosfera lúgubre típica das histórias de fantasma vitorianas, O Silêncio da Casa Fria honra os melhores contos góticos. A história de uma mulher confrontada com um medo irracional, que coloca em xeque sua própria sanidade. Estaria Elsie vendo coisas como forma de dar sentido ao luto? Ou realmente havia algo sobrenatural morando sob o mesmo teto que ela?
Algumas portas devem permanecer trancadas."
Já nas primeiras páginas, O Silêncio da Casa Fria me lembrou bastante A Paciente Silenciosa, ao começar a narrar a história em um hospício, com uma paciente que tem dificuldade em falar e de se expressar sobre os acontecimentos que a levaram até ali. Elsie é uma mulher que passou por mais traumas do que qualquer um seria capaz de suportar, mas se ela ousar contar a verdade, é possível que realmente seja considerada louca. E o leitor é convidado a vivenciar a história pelos olhos de Elsie da forma mais intensa possível.
“Não havia jornais na sala comunitária - pelo menos, não quando ela recebia permissão para estar lá -, mas os boatos conseguiram se infiltrar por debaixo das portas e através das rachaduras nas paredes. As mentiras dos jornalistas chegaram ao hospício muito antes dela. Desde que havia acordado naquele lugar pela primeira vez, recebera um novo nome: assassina.” Página 13
A história é construída levando em conta três linhas do tempo diferente. Começamos com o momento presente, em que Elsie está internada em um hospital psiquiátrico; um momento anterior, em meio ao desenrolar dos acontecimentos que a levaram até o hospital; e um momento passado, 200 anos antes, contado no diário de uma das ancestrais da família Bainbridge, que morou na mesma casa que Elsie precisou chamar de lar, mas que se mostrou tudo, menos acolhedora.
Ao longo de toda a leitura, a sensação de fogo é latente. Devido ao contexto da história e as várias menções a madeiras, fósforos, incêndios, fogueiras, o passar de páginas é quase um crepitar de chamas. Mesmo em cenas arrepiantes, que deveriam gelar o corpo, é possível sentir um calor horripilante. O fogo está presente mesmo quando não é escrito. E a edição do livro também não nos deixa esquecer. Além da folha de guarda que imita um papel de parede queimado, as chamas em algumas páginas do miolo também nos relembram o tempo todo da importância que o fogo tem para a história.
“A carruagem atravessou a ponte. A água gorgolejava ali embaixo, parecendo rir de sua desgraça. Havia alguma coisa errada na Ponte. Em Londres, ela aprenderá a desdenhar do medo como uma bobagem, mas agora que estava de volta podia senti-lo, rastejando, serpenteando. Uma coisa escura e perdida, tocando até as raízes das plantas que cresciam no jardim. Não era só o passado, aqueles estranhos acontecimentos no diário de Anne Bainbridge de que Sarah falava. A própria estrutura da casa era malévola. Elsie podia encarar a fábrica de fósforos onde havia sofrido quando criança, mas esse... esse lugar lugar a deixava nervosa.” Página 205
Laura Purcell nos deixa no limiar da desconfiança do começo ao fim do livro de uma forma que poucos autores conseguiram fazer comigo nos últimos tempos. Até a última página ficamos em dúvida não apenas em relação ao desfecho, mas à veracidade dos acontecimentos. Como eles são contados em primeira pessoa, em todos os momentos da narrativa somos obrigados a nos questionar se o que está sendo narrado é real ou fruto da loucura.
Gosto de livros que conseguem manter a qualidade do enredo do início ao fim e é sempre uma belíssima surpresa quando o desfecho consegue fechar a história com chave de ouro e é exatamente o que acontece com O Silêncio da Casa Fria. O livro que já é muito bom termina de um jeito que fará até o leitor mais desconfiado e astuto se surpreender.
Estou me interessando cada vez mais por livros que se passam na era vitoriana e a DarkSide parece que tem escolhido apenas os melhores do tipo para publicar. O Silêncio da Casa Fria traz todas as características de um belíssimo romance gótico.
Como mencionado no post da editora sobre a publicação do livro, "para elaborar o contexto e o toque gélido de O Silêncio da Casa Fria, a autora leu o máximo de histórias de fantasmas e romances góticos que conseguiu, tentando aprender com os autores que magistralmente evocam uma atmosfera assustadora para seus textos, como Susan Hill, Shirley Jackson, Daphne Du Maurier and Philippa Gregory. Também realizou pesquisas do período inicial do reinado Stuart, além de estudos detalhados sobre a Era Vitoriana". O Silêncio da Casa Fria realmente é um livro muito bem trabalhado e pensado, com um enredo redondinho e cativante. Um dos melhores livros lidos nos últimos tempos.
Gostou da resenha e quer conhecer outro título de terror? Então conheça A Metade Sombria!
“Os outros pacientes, os auxiliares, até os enfermeiros, quando achavam que ninguém iria ouvir, torciam a boca e arreganhavam os dentes ao pronunciar a palavra com avidez. Assassina. Como se quisessem assustá-la. Logo ela.” Página 13
Inscreva-se na newsletter para ter acesso a conteúdos exclusivos sobre o mercado editorial, literatura e ainda fica à par dos lançamentos mais aguardados. Faça parte da newsletter feita para os amantes dos livros ♥
0 comments