Canção de Ninar é um daqueles livros que causam um impacto desde a primeira página. O livro de estreia de Leïla Slimani foi vencedor do Goncourt, o mais prestigioso prêmio literário francês, e vem dando o que falar desde então. Escolhido em clubes de leitura, comentado por influenciadores e ganhando espaço na estante dos leitores, Canção de Ninar é um thriller curte, mas impactante.
Quer saber mais sobre o livro de estreia de Leïla Slimani? Confira a resenha de Canção de Ninar!
"Quem cuida dos seus filhos quando você não está olhando? Apesar da relutância do marido, Myriam, mãe de duas crianças pequenas, decide voltar a trabalhar em um escritório de advocacia. O casal inicia uma seleção rigorosa em busca da babá perfeita e fica encantado ao encontrar Louise: discreta, educada e dedicada, ela se dá bem com as crianças, mantém a casa sempre limpa e não reclama quando precisa ficar até tarde. Aos poucos, no entanto, a relação de dependência mútua entre a família e Louise dá origem a pequenas frustrações – até o dia em que ocorre uma tragédia. Com uma tensão crescente construída desde as primeiras linhas, Canção de Ninar trata de questões que revelam a essência de nossos tempos, abordando as relações de poder, os preconceitos entre classes e culturas, o papel da mulher na sociedade e as cobranças envolvendo a maternidade. Publicado em mais de 30 países e com mais de 600 mil exemplares vendidos na França, Canção de Ninar fez de Leïla Slimani a primeira autora de origem marroquina a vencer o Goncourt, o mais prestigioso prêmio literário francês."
FICHA TÉCNICA
Título: Canção de ninar
Autora: Leïla Slimani
Páginas: 192
Ano: 2018
Editora: Tusquets Editores (Planeta de Livros)
Nota: 4
Compre: Amazon
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LIVRO CEDIDO EM PARCERIA COM A EDITORA
Título: Canção de ninar
Autora: Leïla Slimani
Páginas: 192
Ano: 2018
Editora: Tusquets Editores (Planeta de Livros)
Nota: 4
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LIVRO CEDIDO EM PARCERIA COM A EDITORA
Canção de Ninar tem um dos começos mais impactantes dos últimos tempos. Logo na primeira página somos apresentados ao assassinato de duas crianças de forma explícita e brutal. Assim que esse primeiro capítulo é encerrado, o leitor é convidado a voltar no tempo e acompanhar a rotina tranquila e absolutamente banal de um casal de classe média em Paris. É desconcertante ter contato com esses extremos logo de cara e isso altera o ritmo da narrativa ao mesmo tempo, ajuda a construir uma expectativa constante que se estende por todo o livro.
"A babá é como essas silhuetas que, no teatro, mudam no escuro os objetos de uma cena. Elas tiram um divã, empurram uma coluna de papelão com a mão, assim como um painel de parede. Louise se move nas coxias, discreta e poderosa. É ela quem segura os fios transparentes sem os quais a magia não pode acontecer. Ela é Vishnu, divindade mantenedora, ciumenta e protetora. Ela é loba em cuja mama eles vêm se alimentar, a fonte infalível da felicidade familiar." Página 50
Canção de Ninar nos apresenta uma família de classe média aparentemente comum, com pai e mãe dedicados a suas carreiras e dois filhos pequenos que precisam de uma babá para vigiá-los durante o dia. A família é uma unidade completamente banal, com dilemas cotidianos e conflitos individuais bem fáceis de entender. Os pais são a representação perfeita de uma certa banalidade que toma conta de todos nós em detrminado momento da vida. Ao lidar com perspectivas de carreira, criação dos filhos, relacionamentos amorosos e convívio doméstico, esse pequeno núcleo familiar a princípio não parece trazer nada de eletrizante. Louise, a babá, é a responsável por balançar esse falso equilíbrio e transformá-lo em algo mais interessante, tanto para o leitor, quanto para a própria família que começa a se reajustar a essa nova persona.
A trama é bem desenvolvida e Leïla Silmani consegue trabalhar os personagens de forma bem interessante ao longo de todo o livro. A partir da reta final de Canção de Ninar conseguimos ter vislumbres mais sombrios de alguns dos protagonistas e desvios de caráter começam a ficar mais claros com o decorrer do livro. Entretanto, a autora termina o livro de forma repentina, deixando uma sensação de que a história poderia ser mais. Quando começamos a entender melhor o rumo das atitudes das personagens, passamos a última página e ficamos apenas com o futuro. Existe um gap no final do livro, mesmo que a autora tenha deixado tudo o mais claro possível. Por mais que a intenção possa ter sido terminar a narrativa do ponto em que ela começou, senti falta de um algo a mais.
Um elemento interessante que é trazido pela autora é a maternidade compulsória e a relação dúbia de uma mulher com o fato de ser mãe. Ao mesmo tempo em que ela ama seus filhos, ela se ressente deles porque acredita que, ao tê-los, acabou perdendo algo. Mesmo que esse não seja o foco do livro, sinto que Leïla Slimani poderia ter explorado um pouco mais essa questão, principalmente quando o relacionamento entre a mãe da família e a babá se torna mais íntimo e Louise passa a ser uma peça essencial na família.
Além disso, Canção de Ninar, além do suspense em si, traz alguns questionamentos como a dependência de uma babá. Muitas vezes, movidos por construções sociais, casais optam por ter filhos sem estarem verdadeiramente preparados ou entusiasmados com a ideia e acabam delegando a criação para outras pessoas. Nesse caso, o desfecho é sinistro e trágico, mas a leitura pode suscitar reflexões a respeito de um desejo forçado.
"Ele se dá conta de que, de início, não é surpresa ou estupefação o que ele sentiu há pouco, frente à policial, mas um imenso e doloroso alívio. Júbilo, até. Como se ele estivesse sempre sabido que uma ameaça pairava sobre ele, uma ameaça branca, sulfurosa, indizível. Uma ameaça que só ele, com seus olhos e seu coração de criança, era capaz de perceber. O destino quis que a infelicidade caísse em outro lugar." Página 142
Por conta das primeiras páginas, tão intensas e surpreendentes, Leïla Slimani carrega o leitor, aflito, por toda a leitura. Cada detalhe se torna uma pista, cada nuance vira um alerta para o que acontecerá no futuro. Foi uma maneira extremamente inteligente de cativar o leitor e já fazer com que o livro adquira um ritmo de leitura bem interessante.
Canção de Ninar é um suspense psicológico que trabalha a expectativa do leitor muito mais do que a tragédia em si. O primeiro capítulo é responsável por mostrar, logo de cara, o final da trama. Ao apresentar o desfecho logo nas primeiras páginas, Leïla Silmani captura o leitor de maneira ímpar, fazendo com que passar as páginas seja quase um exercício de investigação. Cada diálogo, cada pensamento, cada descrição serve como uma pista apra tentarmos entender o que levou a essa tragédia anunciada. É um recurso que influencia o leitor a se atentar ainda mais aos detalhes da narrativa, o que funcionou bem, em certos pontos, já que, em diversos momentos, o enredo segue um ritmo mais lento e menos eletrizante do ponto de vista do suspense.
Em comparação com o restante do livro, o final chega a ser um pouco decepcionante. Entretanto, ao ter contato com a experiência de leitura de outras pessoas, acredito que talvez seja justamente isso que fez e faz com que o livro seja tão falado. Pessoalmente, senti que o desfecho foi escrito às pressas, da forma que a autora havia pensado, mas alguns leitores podem gostar da quebra inusitada da narrativa e o final sem muitas explicações ou satisfações. Mesmo que o começo tenha sido impactante da forma que foi, ao estender a narrativa, de forma monótona, por tanto tempo, Leïla Silmani corre o risco de acabar perdendo o leitor, como senti que aconteceu comigo após esperar tanto por algum pico na narrativa.
Canção de Ninar é um livro que consegue ser poderoso em poucas páginas. É uma leitura curta, levando em consideração o fato de ser um thriller psicológico, mas intensa do início ao fim. Não fosse o começo eletrizante que já desperta nossos sentidos para o desenrolar da trama antes mesmo de ela começar, seria difícil supor que o livro de estreia de Leïla Slimani seria tão arrepiante. Se a autora tivesse trabalhado um pouco melhor o desfecho do livro e criado alguns momentos de tensão no meio da narrativa, acredito que teria conquistado ainda mais leitores e teria menos críticas.
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"O bebê está morto. Bastaram alguns segundos. O médico assegurou que ele não tinha sofrido. Estenderam-no em uma capa cinza e fecharam o zíper sobre o corpo desarticulado que boiava em meio aos brinquedos. A menina, por sua vez, ainda estava viva quando o socorro chegou. Resistiu como uma fera. Encontraram marcas de luta, pedaços de pele sob as unhas molinhas. Na ambulância que a transportava ao hospital ela estava agitada, tomada por convulsões. Com os olhos esbugalhados, parecia procurar o ar. Sua garganta estava cheia de sangue." Página 9
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