Resenha: A Seca
Nos últimos anos, livros com enredos que se passam na Austrália têm caído cada vez mais nas minhas escolhas literárias. Liane Moriarty é um nome recorrente aqui no blog, assim como Jojo Moyes e agora Jane Harper entra para essa lista com muito louvor. A Seca foi o livro escolhido na caixinha de Agosto da TAG Inéditos, em parceria com a editora Morro Branco. Uma leitura surpreendente, complexa e envolvente.
Quer saber mais sobre o livro de Jane Harper? Então confira a resenha de A Seca!
"Não chove em Kiewarra, Austrália, há dois anos. As tensões na comunidade agrícola tornam-se insuportáveis quando três membros da família Hadler são encontrados mortos em sua propriedade. Todos acham que Luke Hadler matou a esposa e o filho de seis anos de idade e depois cometeu suicídio. Apenas a filha mais nova, ainda bebê, sobrevive. O policial Aaron Falk retorna à sua cidade natal para os funerais e se vê atraído para a investigação. Enquanto a suspeita paira sobre todos os moradores da cidade, Falk é forçado a confrontar a comunidade que o rejeitou vinte anos atrás. Um segredo que ele pensou estar enterrado há tempos ameaça voltar à tona com a morte de Luke. Velhas feridas se reabrirão nesta cidade árida."
FICHA TÉCNICA
Título: A Seca
Autora: Jane Harper
Páginas: 368
Ano: 2019
Editora: TAG Experências Literárias / Morro Branco
Nota: 4,5
Compre: Amazon
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LIVRO CEDIDO EM PARCERIA COM A TAG EXPERIÊNCIAS LITERÁRIAS
A Seca se passa em Kiewarra, uma cidade australiana, onde não chove há dois anos. O clima desértico e praticamente palpável já nas primeiras páginas e se faz presente ao longo de toda a narrativa. Além de estar cada vez mais interessada em descobrir autores australianos ou livros que se passam em diversas partes desse país, A Seca me chamou a atenção pela promessa de que a natureza seria praticamente um personagem no decorrer da história, o que de fato acontece.
"O calor do final de tarde o envolveu como um cobertor. Abriu a porta de trás com pressa para apanhar o paletó e queimou a mão no processo. Após a mais breve hesitação, pegou o chapéu de cima do assento. Tinha a aba larga e era de lona marrom rígida, não combinava com o terno fúnebre." Página 12
A natureza, além de ser uma inspiração literária por si só, quando trabalha de forma primorosa por um autor, pode acabar desempenhando um papel fundamental no desenvolvimento de uma história. Em Um Lugar Bem Longe Daqui, eu havia comentado a respeito dessa característica maravilhosa e como isso pode dar uma profundidade ainda maior para um enredo. Bebendo um pouco do Naturalismo literário e da ideia de que a natureza enriquece um livro e pode ser determinante para os personagens e suas ações, Jane Harper soube usar isso de forma bem interessante em uma quase ficção climática. Mesmo que ela não mencione, de forma explícita, o tempo inteiro, a seca e o clima quase desértico estão presentes em vários momentos, o leitor consegue praticamente sentir o sol sob a cabeça enquanto mergulha na história.
A seca se faz presente não apenas no cenário onde se passa a narrativa, mas também na amargura dos habitantes da cidade, na secura no trato uns com os outros, na forma áspera de lidar com questões humanas e na facilidade que todos têm de, a qualquer momento, fazer uma faísca se tornar um incêndio. Os fenômenos naturais dão um toque a mais para um livro cujo suspense já seria o suficiente para prender o leitor. O clima em si não é um fator determinante do livro, mas serve como um recurso literário interessante.
O suspense principal trata do assassinato brutal de uma família conehcida por todos na cidade. Por se tratar de uma comunidade pequena, o evento abala profundamente os alicerces das relações entre os habitantes, o que se torna ainda mais forte e profundo quando Aaron Falk, um antigo morador, retorna à cidade natal para os enterros e, como investigador, se vê preso a uma suspeita de que a tragédia escondia mais do que deixava transparecer.
Além da investigação informal que Aaron Falk começa a conduzir, o leitor é apresentado a um mistério que persegue o protagonista desde que optou por deixar a cidade: a morte de uma garota muito próxima, anos atrás. Os dois suspenses se desenvolvem ao longo da narrativa e o leitor, assim como Aaron Falk, se vê preso em uma teia de mentiras e mistérios que ameaçam mudar toda a comunidade.
Para ajudar a trabalhar o passado sem abrir mão do tempo presente, o autor faz uso de flashbacks. Além do itálico para separar esses blocos de texto, não há nada que delimita explicitamente a mudança de tempo na narrativa, mas a escrita de Jane Harper é tão bem definida que essa demarcação se torna desnecessária. Em muitos livros é fácil se perder durante flashbacks, mas em A Seca o leitor consegue entender perfeitamente que a narração segue o fluxo de pensamentos do protagonista, só tendo acesso às informações à medida que Aaron Falk as têm também. Jane Harper puxa o leitor para dentro da mente do personagem e consegue criar um fluxo natural de acordo com o ritmo de suas memórias, sem a ajuda de explicações mastigadas por parte do narrador.
"O imenso rio se transformara numa cicatriz empoeirada sobre a terra. O leito vazio se estendia longo e árido nas duas direções, suas curvas serpenteantes percorrendo o caminho por onde antes fluíra a água. O vão que os séculos haviam cavado era agora um mosaico de rochas e capim. Pelas margens, raízes cinza e nodosas estavam expostas como teias de aranha." Página 117
A Seca segue um ritmo de leitura bem tranquilo, mesmo pensando que se trata de um romance policial. As investigações são feitas à base da intuição de Aaron Falk e isso faz com que não existam muitos momentos eletrizantes ou impossíveis de largar o livro, mas mesmo assim é um enredo cativante. Jane Harper constrói bem o suspense e desenvolve a trama de forma inteligente e bem enigmática. É um daqueles livros em que o leitor dificilmente conseguirá adivinhar o final, o que faz com que A Seca ganhe ainda mais destaque em meio a outros livros do gênero.
A edição enviada pela TAG Inéditos também é um ponto a se levantar. Além da diagramação bem elegante e acessível, que promove uma leitura fluida, os brindes que compõe a caixinha dão um toque a mais para alguém que gosta de colecionar mimos literários. A sobrecapa ajuda a dar um ar de mistério para a narrativa, o vaso autoirrigavel deixa o leitor no clima da história, e a revista que acompanha o livro ajuda a ampliar o olhar para a leitura que está por vir. Clubes de assinatura de livro estão voltando a ganhar popularidade e meu primeiro contato com a caixinha da TAG Inéditos me fez entender perfeitamente o porquê.
A Seca é uma indicação perfeita para fãs de romances policiais e suspenses, além de ser um ótimo exemplo de como uma autora pode construir um enredo cativante, mantendo um ritmo praticamente constante na narrativa. Jane Harper representa um movimento de escritores australianos que tem tudo para ganhar ainda mais o leitor brasileiro.
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"Ficou ali em pé sobre as pernas trêmulas, a vista embaçada enquanto, ao seu redor, as cacatuas revoavam e cantavam em direção ao céu vermelho e abrasador. Sozinho, dentro daquela monstruosa ferida, Falk mergulhou o rosto nas mãos e gritou uma única vez." Página 118
A TAG Experiências Literárias oferece dois tipos de clube do livro e assinatura: a TAG Curadoria e a TAG Inéditos. A Seca foi publicado pela TAG Inéditos em parceria com a editora Morro Branco. Os assinantes da TAG Inéditos recebem, todos os meses, livros que ainda não foram publicados no Brasil com uma curadoria feita por bookhunters. São best-sellers de leitura rápida e linguagem contemporânea, daqueles repletos de diálogos e cenas emocionantes, que fisgam o leitor desde as primeiras páginas. Na caixinha da TAG Inéditos você recebe o livro em edição exclusiva (brochura), box colecionável, revista sobre autor e a obra, mimo literário, marcador de página e playlist personalizada. Alguns meses depois do envio do livro para os assinantes do clube, o lançamento poderá ocorrer nas livrarias, mas a edição das prateleiras será diferente, pois a do clube tem tiragens limitadas e é exclusiva aos associados.
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