Resenha: As Viúvas

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É um alívio ver que cresce cada vez mais o número de livros com mulheres protagonistas que fogem aos clichês e derrubam estereótipos das formas mais inusitadas possíveis. Personagens femininas fortes, características de Shonda Rhimes estão ganhando espaço também na literatura e em As Viúvas Lynda La Plante torna isso ainda mais evidente.

Em meio a um cenário de gângsteres e mafiosos, Lynda apresenta a história de quatro mulheres que descobrem, enquanto planejam um épico assalto, suas forças interiores e mostram como o poder feminino se expressa também na pele de criminosas.

"Dolly, Linda e Shirley não eram grandes amigas nem tinham nada em comum até que os maridos morrem juntos operando uma tentativa de assalto. Cada uma a seu modo está enfrentando o luto quando Dolly é surpreendida por descrições detalhadas de todos os roubos realizados e planejados pelo marido. Ela se vê diante de uma encruzilhada: pode se livrar daquilo tudo e voltar à sua vida pacata ou entregar a descoberta aos criminosos que querem tomar o lugar do falecido. Mas ninguém cogitaria sua aposta em uma terceira alternativa: recrutar as outras viúvas e concluir aquela última missão.
Sozinhas e sem experiência no mundo do crime, as três começam os preparativos para a operação, porém o caminho até o roubo perfeito não se mostra exatamente simples. Mesmo com o cenário ideal para o crime ideal, será que mulheres de luto conseguirão concretizá-lo?
Com protagonistas femininas fortes e uma narrativa intensa, As Viúvas inspirou a adaptação com direção de Steve McQueen McQueen (12 Anos de Escravidão) e roteiro de Gillian Flynn. Protagonizado por Viola Davis e com grandes nomes no elenco, como Liam Neeson, Colin Farrell e Michele Rodriguez, o filme — já cotado para o Oscar — estreia no Brasil dia 29 de novembro."

FICHA TÉCNICA
Título: As Viúvas
Autora: Lynda La Plante
Ano: 2018
Páginas: 400
Idioma: Português
Editora: Intrínseca
Nota: 4/5
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As Viúvas propõe uma narrativa de máfia diferente da carga masculina à qual estamos tão acostumados. Com as mulheres da literatura ganhando cada vez mais espaço como protagonistas fortes e complexas, As Viúvas cumpre seu papel de colocar quatro protagonistas completamente diferentes de si sem precisar apelar para clichês de feminilidade ou masculinizá-las para abordar uma trama que fala de assalto, roubo e assassinatos.

"Com três condenações anteriores, Terry Miller foi reconhecido pelas impressões parciais de um polegar e um indicador do que restara de sua mão esquerda carbonizada.
Os três homens eram casados. Agora sua três mulheres estavam viúvas." Página 9


A trama começa a ganhar vida de fato quando Dolly encontra os planos de Harry Rawlins, seu marido, em um cofre. Todo um assalto havia sido planejado e poderia ser executado com a ajuda de mais alguns braços. Como forma de lidar com o luto, Dolly então decide colocar à prova toda a sua inteligência para realizar um assalto extremamente elaborado e bem pensado. A solução? Procurar as outras viúvas e executar o que vinte anos de invasões e assaltos haviam ensinado a seus maridos.

Dolly é a responsável por unir essas mulheres tão diferentes e se coloca como a cabeça do grupo. Harry era o principal criminoso da cidade e registrava todos os crimes e seus participantes em um livro. Esses registros se tornam o objeto de desejo de outros criminosos que querem ter o comando da cidade e correm risco se o livro cair nas mãos da polícia. Do outro lado, Resnick, um policial prejudicado por Harry, que quer, de qualquer maneira, colocar as mãos nesses livros para provar a validade de sua obsessão pelo criminoso e para limpar seu nome.


Lynda La Planta soube como tornar uma trama envolvente e bem visual sem apelar para descrições excessivas. Não é difícil imaginar porque o enredo serviu de inspiração para o cinema; passar as páginas e como mergulhar em um roteiro de filme: bem estruturado, intrigante e cheio de reviravoltas.

O enredo é muito bem construído de forma a fazer com que o leitor consiga visualizar cada cena como se estivesse realmente assistindo um filme. É fácil se identificar com algumas características das personalidades das protagonistas e criar algum tipo de conexão com elas. Seja pelas experiências de vida, medos, anseios, prazeres e formas de pensar e agir, cada protagonista reserva um mundo único que a autora explora muito bem dentro dos limites da narrativa.

É um livro fácil de ler e cujo ritmo de leitura engana as 400 páginas. É uma narrativa divertida e intrigante, que não foge muito dos clichês, mas não deixa de entregar um enredo muito bem construído, personagens bem característicos, cenas dramáticas e viciantes e uma deixa para uma suposta continuação.


Além disso, é interessante ver a construção de uma sororidade entre as protagonistas que se unem devido a uma situação inusitada e desafiadora, mas que criam vínculos entre si ao longo do desenrolar da trama. São mulheres com bagagens diferentes, personalidades extremamente conflitantes, mas que, de alguma forma, se encontram uma na outra.

Lynda La Plante explora como as mulheres do livro lidam com o luto de acordo com sua proximidade e tipo de relação que tinham com os maridos. As reviravoltas que preenchem a narrativa servem como uma forma de nos fazer questionar a maneira como cada uma lida com sua nova realidade e como isso pode afetar o desenrolar da história.

"Ela se levantou, alta e ereta. Então, apertou o cinto do roupão e passou as mãos pelo cabelo. Era uma lutadora: ela sempre fora e ainda havia muita força dentro dela para continuar lutando." Página 396


As Viúvas, além de fazer referência a ótimas tramas de máfia e histórias de assaltos, é também sobre a capacidade que as mulheres têm de se adaptar às intempéries fazendo uso de sua audácia e feminilidade. É um livro para se ler de uma vez e mergulhar um pouco em um universo literário em que criminosos geram empatia e nos fazem torcer por seus enredos do começo ao fim. Um livro com protagonistas fortes e um enredo que está me fazendo querer correr para o cinema para conferir sua adaptação.

Gostou da resenha e gostaria de outra dica de leitura? Então confira a resenha de A Outra Sra. Parrish!

"Então, como se Harry estivesse de pé ao seu lado, ela se sentiu reconfortada. Dolly estava certa de que ele a guiaria nos próximos meses, até o assalto. Afinal, ela estava fazendo aquilo por ele. Realmente acreditava que ele cuidaria dela e não permitiria que nada desse errado.
Naquela noite, com o pequeno Wolf ao seu lado na cama, deitado no travesseiro de Harry, Dolly teve a melhor noite de sono desde que recebera a tão terrível notícia." Página 75


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