Sempre adorei ler e escrever crônicas e busquei em nomes como Antônio Prata, Martha Medeiros e Tati Bernardi algumas das minhas maiores inspirações para o gênero. Acredito que qualquer amante de crônicas adore acompanhar as reflexões desses autores que há algum tempo já vêm ganhando destaque na literatura brasileira. Quando recebi Homem-objeto e outras coisas sobre ser mulher, da Tati Bernardi, fiquei ansiosa para mergulhar em um intensivo de textos de uma das minhas cronistas favoritas.
Quer saber o que eu achei de Homem-objeto e outras coisas sobre ser mulher? Então confira a resenha:
"Desde que começou a escrever semanalmente para a Folha de S.Paulo, em 2013, Tati Bernardi não parou de conquistar leitores. Com sua prosa hilariante de inteligência frenética, ela se tornou uma das principais críticas dos costumes da classe média "meio intelectual, meio de esquerda" — usando aqui a expressão cunhada por Antonio Prata, autor da mesma geração.
Homem-objeto reúne seus melhores textos e traz uma crônica inédita, "Meu marido joga videogame", que retrata um dos temas que se sobressaem no conjunto, não apenas pela recorrência, mas pela originalidade e destemor com que é tratado: a experiência de ser mulher no mundo contemporâneo.
Tati diverte como poucos autores, e são muitos os leitores que abaixam o jornal para que a gargalhada possa ecoar como deve. Como dizia um velho filósofo, nós rimos porque dói. Talvez o elemento comum entre suas crônicas sobre constipação, espermograma ou taquicardia seja que todas tratam de sentimentos íntimos e profundos. O resultado, esperado ou não, é uma surpreendente dose de poesia."
Homem-objeto reúne seus melhores textos e traz uma crônica inédita, "Meu marido joga videogame", que retrata um dos temas que se sobressaem no conjunto, não apenas pela recorrência, mas pela originalidade e destemor com que é tratado: a experiência de ser mulher no mundo contemporâneo.
Tati diverte como poucos autores, e são muitos os leitores que abaixam o jornal para que a gargalhada possa ecoar como deve. Como dizia um velho filósofo, nós rimos porque dói. Talvez o elemento comum entre suas crônicas sobre constipação, espermograma ou taquicardia seja que todas tratam de sentimentos íntimos e profundos. O resultado, esperado ou não, é uma surpreendente dose de poesia."
Título: Homem-objeto e outras coisas sobre ser mulher
Autora: Tati Bernardi
Ano: 2018
Páginas: 256
Idioma: Português
Editora: Companhia das Letras
Nota: 4/5
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LIVRO CEDIDO EM PARCERIA COM A EDITORA
Acredito que uma das coisas que mais me encanta nas crônicas é a forma de abordar das maneiras mais criativas, assuntos do cotidiano. Tati Bernardi faz isso com maestria e muito humor. Em Homem-objeto e outras coisas sobre ser mulher, Tati mergulha ainda mais nos dilemas que nos perturbam diariamente da forma mais inteligente possível. Ela consegue dissecar desde transtornos mentais até tesão reprimido com tamanha facilidade que não é difícil entender porque é uma das principais colunistas da Folha de S.Paulo.
"Agora já estou acostumada com as pessoas me dando parabéns, mas antes até isso embrulhava meu estômago (junto com sucos, sopas, carnes, massas, queijos, frutas, perfumes, amaciantes, outros humanos, ar, existir). Deveria ter recebido essas congratulações aos vinte e dois anos, quando braços finos e peitos empinados formavam uma dupla fatal e imbatível nas festinhas. Os jovens merecem parabéns. Os solteiros, cheios de colágeno e vontades. Eu, sem entender o porquê de tanto cansaço, susto e mal-estar, só merecia (e queria) minha cama e silêncio." Página 20
Homem-objeto se diferencia dos outros livros de crônicas porque, como o próprio título entrega, trabalha diversas questões do universo feminino, mas isso não quer dizer que o livro seja voltado apenas para mulheres. Tati reflete sobre a convivência dentro de um casamento, sobre sexo casual, comportamento no trabalho, interação com amigos de longa data e até mesmo prisão de ventre causada por remédios na gravidez. Tudo de forma cômica e extremamente humana.
Em seu novo livro, Tati Bernardi abre a porta de alguns de seus conflitos mais íntimos e os escancara para quem quiser ler e se identificar. Ela não tem medo de colocar o dedo na ferida de algumas polêmicas presentes em discussões e discursos de ódio e faz isso sem perder a sinceridade e a habilidade para embasar seus argumentos. Em suas crônicas e com sua personalidade forte, Tati mostra que não tem medo de ser quem é, mesmo que às vezes isso possa doer ou incomodar.
"Fizemos as malas prometendo jamais voltar. Pegamos um Uber repetindo 'nunca mais'. Embarcamos entoando nossa senha da felicidade. Chegamos a Guarulhos ainda pesquisando lugares baratos e maneiras de viver eternamente naqueles seis dias de férias. Chegamos em casa planejando nunca mais voltar para casa. Se tudo der certo, vamos ficar aqui par sempre." Página 240
Mesmo que o grande parte das crônicas abordem o empoderamento feminino e tudo o que envolve ser uma mulher de classe média nos dias de hoje, Tati abre mão de alguns elementos presentes nos discursos da militância e mostra que toda mulher tem direito de decidir o que quer, quando quer, como quer e com quem quer. Em textos como Pegada e comida, ela mostra que não tem nada de errado em querer ser submissa na cama, em querer abrir mão do controle em algumas situações, isso não faz nenhuma mulher menos feminista ou dona de si.
Homem-objeto e outras coisas sobre ser mulher é um livro que merece ser lido aos poucos, alguns poucos textos por dia. O gostoso das crônicas é poder se identificar com pequenos recortes de realidades alheias, então sugiro a leitura paciente. Foi um livro fácil de ler e me fez ter ainda mais vontade de continuar acompanhando as reflexões cotidianas de Tati Bernardi.
Minhas crônicas favoritas de Homem-objeto e outras coisas sobre ser mulher:
♥ Meu marido joga vídeo game
♥ Legal, mas e o filho?
♥ Estar grávida é estranho
♥ Dr. Machismo
♥ Contra o machismo, a favor dos machos
♥ O que eu queria ter dito
♥ Faça o autoexame
♥ Este texto era sobre
♥ Nunca mais
♥ Pegada e comida
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