Resenha: Graça e Fúria

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Quando recebi a prova de Graça e Fúria, fiquei curiosa para ler uma narrativa que, a princípio, me parecia apenas mais um romance. Entretanto, já no primeiro capítulo me surpreendi com as protagonistas fortes e inquietas, com o contexto de uma sociedade pautada pelo machismo e com a forma de abordar assuntos que poderiam cair no clichê. Graça e Fúria me prendeu desde a primeira página e se mostrou uma leitura interessante e encantadora.

Quer saber o que achei de Graça e Fúria? Então leia a resenha:

Duas irmãs lutam para mudar o próprio destino no primeiro volume de uma série de fantasia repleta de romance, ação e intrigas políticas. Em Viridia, as mulheres não têm direitos. Em vez de rainhas, os governantes escolhem periodicamente três graças — jovens que viveriam ao seu dispor. Serina Tessaro treinou a vida inteira para se tornar uma graça, mas é Nomi, sua irmã mais nova, quem acaba sendo escolhida pelo herdeiro. Nomi nunca aceitou as regras que lhe eram impostas e aprendeu a ler, apesar de a leitura ser proibida para as mulheres. Seu fascínio por livros a levou a roubar um exemplar da biblioteca real — mas é Serina quem acaba sendo pega com ele nas mãos. Como punição, a garota é enviada a uma ilha que serve de prisão para mulheres rebeldes. Agora, Serina e Nomi estão presas a destinos que nunca desejaram — e farão de tudo para se reencontrar.



FICHA TÉCNICA


Título: Graça e Fúria
Autora: Tracy Banghart
Ano: 2018
Páginas: 304
Idioma: Português
Editora: Seguinte (Companhia das Letras)
Nota: 5/5  
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Graça e Fúria conta a história de duas irmãs obrigadas viver em uma sociedade extremamente machista, em que as mulheres são criadas para serem submissas e totalmente dependentes dos homens. Mulheres não podem trabalhar com nada além de bordar, cozinhar e cuidar da casa, não podem ler, nem se posicionar diante de alguma questão política. A sociedade é governada por um superior que desempenha o papel de uma espécie de rei totalitário. A tradição prega que tanto ele quanto seu herdeiro tenham mulheres a seu dispor, chamadas de graças. Ser uma graça é, supostamente, uma honra inigualável, mesmo que isso signifique passar o resto da vida como uma mulher de vitrine, tendo que estar sempre disponível para conceder os desejos do superior ou de seu herdeiro.

“Nomi ficou na cama sozinha.
A noite inteira, sentiu seus pulmões doerem ao respirar, como se seu peito estivesse amarrado a ferro.
Sou uma graça.” Página 36



Serena foi treinada ao longo de toda a sua vida para ser uma graça, isso significaria prestígio perante a sociedade e uma vida melhor para sua família. Quando ela é uma das escolhidas do superior para desempenhar o papel de uma das graças do herdeiro, ela sente um misto de felicidade e dever cumprido. Entretanto, o herdeiro escolhe Nomi, sua irmã rebelde e despreparada para a função, para ser uma de suas graças. Nomi, ao contrário de Serena, aprendeu a ler em segredo, se rebela contra tradições que ao seu ver não fazem sentido e não entende porque a sociedade funciona de tal forma. Para proteger sua irmã, Serena é exilada em uma prisão com outras mulheres consideradas indignas de viver em sociedade e precisa repensar tudo o que ela sabe e o que ela é.

O título do livro, Graça e Fúria, representa o que cada irmã era e o que se tornou. Serena, treinada para ser uma graça, se vê consumida pela fúria e pela descrença. Nomi, com sua personalidade explosiva e impulsiva, precisa aprender a se tornar uma graça se quiser sobreviver e salvar sua irmã.


Um ponto alto do livro se refere ao fato de o arco central não ser focado em uma relação entre homem e mulher e sim entre duas irmãs, uma em busca da salvação da outra. Os homens, mesmo desempenhando papéis importantes para o desenvolvimento da narrativa, são coadjuvantes. Em Graça e Fúria, são as mulheres que, mesmo aparentemente submissas, ganham destaque.

Graça e Fúria me surpreendeu bastante. Confesso que não estava com muitas expectativas porque esperava encontrar uma narrativa de época com dilemas rasos e superficiais, mas tive todas as minhas expectativas superadas. A todo momento esperava que os protagonistas masculinos ganhassem destaque e fossem perdoados por suas ações em uma sociedade cruel e patriarcal, mas não é o que acontece. Mesmo em momentos de romance ou conexão com personagens masculinos, as mulheres detêm parte do controle e tentam tomar as escolhas por si só, mesmo que o contexto não permita.

“- Aqui em Monte Ruína, temos que merecer nossas rações – Oráculo continuou. – E todo mundo passa fome. Então pule se tiver que pular, mas não espere ser alimentada se não trabalhar. Se não lutar. Os guardas controlam a ilha, mas vocês controlam sua própria sobrevivência. Ouça, aprendam e lembrem: as regras que aprenderam em Viridia, para ser discretas, modestas, humildes, fracas, não vão ajudar agora. Aqui, a força e a única moeda.” Página 83

É uma história para ser lida por jovens, adolescentes e adultos. A narrativa permite que diversos públicos se sintam imersos na história e se identifiquem com as personagens e suas escolhas. O livro levanta questões interessantes como o papel dado à mulher na sociedade em razão do medo da força feminina, além de discutir a sororidade.


Graça e Fúria é uma história de irmandade feminina. É sobre retomar o controle, mesmo que as mulheres não saibam que o controle sempre foi delas. É uma história gostosa de ler, que nos faz passar as páginas curiosas para saber o que acontecerá em seguida e cheia de reviravoltas que, aliadas ao desenvolvimento de cada uma das personagens, constrói uma narrativa interessante e intrigante.

Graça e Fúria é o primeiro volume e já estou ansiosa para ler a continuação. Tracy Banghart conseguiu criar um mundo aparentemente fantasioso, mas que poderia muito bem ser uma metáfora para a sociedade em que vivemos e as transformações que ela está vivenciando.

Gostou da resenha e quer conhecer outro livro que aborda a força feminina e a quebra de paradigmas? Então confira a resenha de O Poder.

“Sempre pensara que não havia valor em resistir, que não adiantaria nada.
Mas sua irmã sempre esteve certa. Valia a pena se rebelar. Só o ato de resistir podia mudar o mundo.
E elas iriam mudar o mundo. Serina garantiria isso.” Página 291

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