Resenha: O que é lugar de fala?
Em um mundo de tantos extremismos, Djamila Ribeiro mostra como é possível se posicionar e defender uma causa sem agressividade e com muita classe. Buscando definir melhor esse conceito, “O que é lugar de fala?” nos leva em uma breve viagem no tempo, nos apresenta mulheres importantíssimas para a ideologia feminista e nos faz refletir sobre nosso papel – mesmo que inconsciente e velado – em uma sociedade desigual. Um livro extremamente necessário e brilhante.
Quer saber o que achei do livro? Então confira a resenha de O que é lugar de fala?:
“Muito tem se falado ultimamente sobre o conceito de lugar de fala e muitas polêmicas acerca do tema têm surgido. Fazendo o questionamento de quem tem direito à voz numa sociedade que tem como norma a branquitude, masculinidade e heterossexualidade, o conceito se faz importante para desestabilizar as normas vigentes e trazer a importância de se pensar no rompimento de uma voz única com o objetivo de propiciar uma multiplicidade de vozes. Partindo de obras de feministas negras como Patricia Hill Collins, Grada Kilomba, Lélia Gonzalez, Luiza Bairros, Sueli Carneiro, o livro aborda, pela perspectiva do feminismo negro, a urgência pela quebra dos silêncios instituídos explicando didaticamente o que é conceito ao mesmo tempo em que traz ao conhecimento do público produções intelectuais de mulheres negras ao longo da história. Em Aprendendo com o outsider within: a significação sociológica do pensamento feminista negro, Patricia Hill Collins fala da importância das mulheres negras fazerem um uso criativo do lugar de marginalidade que ocupam na sociedade a fim de desenvolverem teorias e pensamentos que reflitam diferentes olhares e perspectivas. Pensar outros lugares de fala passa pela importância de se trazer outras perspectivas que rompam com a história única."
Título: O que é lugar de fala?
Autora: Djamila Ribeiro
Ano: 2017
Páginas: 115
Idioma: Português
Editora: Grupo Editorial Letramento
Nota: 5/5
Compre: Amazon
O que é lugar de fala? é o primeiro livro da coleção Feminismos Plurais, que contará com diversos livros escritos por mulheres negras e indígenas e homens negros de diversas regiões do Brasil. A proposta é reunir em uma coletânea pequenos volumes escritos por intelectuais de grupos historicamente marginalizados. Alguns dos assuntos abordados envolvem encarceramento, racismo estrutural, branquitude, lesbiandades, mulheres, indígenas e caribenhas, transexualidade, afetividade, empoderamento etc. O segundo volume da coleção já está sendo lançado e se chama “O que é encarceramento em massa?”. Ou seja, só assunto polêmico, impactante e extremamente necessário.
Djamila Ribeiro, muito conhecida por sua militância nas redes sociais e como colunista do site da Carta Capital, mostra a que veio em “O que é lugar de fala?”. Em uma época em que todo mundo tem muito para opinar e pouco embasamento histórico, sociológico e científico, Djamila volta às raízes do feminismo e de parte da história do movimento de empoderamento das mulheres negras para explicar esse conceito que chegou a ser banalizado em meio a tanta discussão.
“Ainda é muito comum se dizer que o feminismo negro traz cisões ou separações, quando é justamente o contrário. Ao nomear as opressões de raça, classe e gênero, entende-se a necessidade de não hierarquizar opressões." p.13
Djamila deixa claro suas opiniões e posicionamentos com relação a diversos tópicos abordados no livro, mas sempre tomando como base alguma filósofa, dados estatísticos, pesquisas e relatos históricos de feministas e, principalmente, feministas negras. Sua forma de conduzir a leitura revela seus anos de estudo e engajamento na causa de forma natural e extremamente inteligente. A autora sabe do que está falando e fica clara sua preocupação em tentar esclarecer o leitor a respeito do conceito de lugar de fala. Mais do que defender um lado, Djamila mostra a empatia de se colocar no lugar do outro e entender que cada pensamento, argumento e experiência é derivado de fatores sociais e históricos.
“O que é lugar de fala?” aborda questões como feminismo negro, diferenças de discursos dentro do próprio feminismo, desigualdade social, machismo, opressão de gênero, tentativas de deslegitimação, racismo, posição social etc. Todas importantíssimas para entender o contexto geral da ideologia feminista e do próprio conceito de lugar de fala.
A diagramação com o texto bem dividido nas páginas, a escolha da fonte e do tamanho reduzido do livro contribuem para uma leitura mais dinâmica. É fácil se sentir imerso nos pensamentos de Djamila Ribeiro e passar as páginas.
Apesar de ser escrito quase em forma de texto acadêmico e ser recheado de citações, é um livro de leitura fácil, perfeitamente compreensível e extremamente didático. Mesmo quem afirmar não se identificar ou concordar com determinado posicionamento pode entender perfeitamente o que Djamila está falando. Ela não apenas emite opiniões, mas fornece fatos e dados que embasam argumentos e justificativas.
Com um formato de bolso de 10x15cm, “O que é lugar de fala?” é um livro pequeno, breve e fácil de ler que tem como objetivo atingir todas as classes sociais, todas as camadas da população. Em uma sociedade pouco leitora, iniciativas como essa, de apresentar temáticas complexas e importantíssimas de forma acessível e didática são pequenos tesouros que merecem destaque.
Com um formato de bolso de 10x15cm, “O que é lugar de fala?” é um livro pequeno, breve e fácil de ler que tem como objetivo atingir todas as classes sociais, todas as camadas da população. Em uma sociedade pouco leitora, iniciativas como essa, de apresentar temáticas complexas e importantíssimas de forma acessível e didática são pequenos tesouros que merecem destaque.
“O propósito aqui não é impor uma ideologia da verdade, mas de contribuir para o debate e mostrar diferentes perspectivas." p.15
“O que é lugar de fala?” é um livro extremamente necessário para compreender melhor o feminismo e o racismo muitas vezes velado e mascarado. Não é um livro militante no sentido de atacar ou buscar alienar o leitor, muito pelo contrário. É um livro que busca esclarecer e colocar um megafone nas mãos daquelas que, por séculos, foram obrigadas a se calar. “O que é lugar de fala?” propõe um diálogo importante para todos. Se você acha que é exceção, então esse livro é pra você mesmo. Djamila Ribeiro pega o leitor pela mão e diz “senta aqui, deixa eu te explicar o porquê desse alvoroço todo”. E ela faz isso muito bem.
Se você gostou da resenha e quer conhecer mais um livro incrível escrito por uma mulher, confira a resenha de Somos Guerreiras!
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“Pensar em lugar de fala seria romper com o silêncio instituído para quem foi subalternizado, um movimento no sentido de romper com a hierarquia." p. 90
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3 comments
Essa capa é de papel reciclado? Se for, é uma super ideia <3
ResponderExcluirToca da Lebre
Lugar de fala é uma das maiores falácias esquerdistas para dar apelo emocional a seus discursos e mascarar suas hipocrisias e preconceitos. Oficialmente prega que "só minorias" deveriam falar do que elas próprias sentem na pele, mas a verdade é que são só esquerdistas. Mesmo se você fosse mulher, lésbica, negra e pobre, se não fizer o jogo da esquerda, vão dizer que você não sabe de nada, que foi doutrinada, blablabla. Entre em qualquer site feminista ou negro ou lgbtq e vejam como as feministas "boazinhas" tratam as mulheres que são contra o aborto ou os negros que são contra cotas raciais ou um gay que desmascare as sandices do Jean Willys. Mas se você pega um cara branco, hétero e classe média como Duvivier que disse que homem não deve falar sobre aborto, mas ele fala sobre aborto, aí é considerado um gênio. Portanto não caiam em armadilhas baratas, só covardes usam "lugar de fala".
ResponderExcluirSomente a título de contribuir com a discussão trazida pelo comentário acima, segue as explicações da própria Djamila Ribeiro acerca da confusão entre lugar de fala e representatividade: "É outra confusão recorrente. Lugar de fala não tem a ver com uma visão essencialista de que somente o negro pode falar de racismo, por exemplo. Lugar de fala implica numa postura ética de pensa o mundo a partir do que lugar que se ocupa na matriz de dominação. Por exemplo, uma pessoa negra pode não se sentir representada por uma pessoa branca, mas essa pessoa branca pode pensar criticamente sobre o que significa o racismo em nossa sociedade e como pode se responsabilizar para contribuir com a transformação necessária. Isso significa dizer que as pessoas brancas podem e devem debater o racismo, de como o fato de pertencerem ao grupo que está no poder implica em privilégios." (Trecho retirado da revista Pandora, 2º Edição - Janeiro de 2018, disponível em - https://pandora.justificando.com/o-que-e-lugar-de-fala/ - acesso dia 27 de abril de 2018). Autora: Djamila Ribeiro.
ExcluirAssim sendo, em razão da visão da própria autora do livro debatido, discordo do comentário acima que diz que "oficialmente prega que só minorias deveriam falar do que elas próprias sentem na pele [...]".
Espero ter contribuído com o debate de maneira respeitosa e sempre com empatia pela opinião alheia.