Resenha: O curso do amor
O curso do amor é um bálsamo da literatura contemporânea. Em um mundo em que as relações amorosas são cada vez mais romantizadas e todo mundo precisa mostrar uma vida perfeita o tempo inteiro, é interessante ler uma abordagem mais crua, real e fiel à realidade do que de fato é o casamento e a vida a dois.
Alain de Botton explora de forma minuciosa a relação de um casal desde a primeira troca de olhares, passando por todos os encontros e desencontros da vida à dois, até o entendimento do que é, de fato, o amor. De forma analítica e literária, somos apresentados com desconstruções do que entendemos que é amar alguém de verdade.
Quer saber o que achei do livro? Então confira a resenha de O curso do amor:
“Em Edimburgo, Rabih e Kirsten se conhecem e logo se apaixonam. Eles se casam, têm filhos. A sociedade nos faz acreditar que esse é o fim da história, mas, na verdade, é apenas o começo. Em O curso do amor, o escritor e filósofo Alain de Botton lança mão da ficção para discutir, através da história de Rabih e Kirsten, as complexidades de um relacionamento amoroso duradouro.
Ao acompanhar o percurso do casal, vivenciamos com eles o furor da paixão, os inevitáveis desencantamentos cotidianos e, ainda, a liberdade e os insights que nos chegam com a maturidade. Botton não se atém apenas ao despertar do amor, mas elabora como esse sentimento pode se manter vivo ao longo dos anos. Mergulhamos com ele na forma como nossos ideais românticos aos poucos se modificam sob a pressão do dia a dia, e deparamos com os esplêndidos — e, às vezes, assustadores — desdobramentos de se descobrir que amar é, essencialmente, mais uma habilidade que precisamos aprender.
Espirituoso, perspicaz e profundamente comovente, O curso do amor é um guia e uma reflexão sobre os relacionamentos modernos. Os desafios da relação de Rabih e Kirsten são intercalados por comentários e anotações, o que resulta em uma narrativa ao mesmo tempo ficcional, filosófica e psicológica. Um livro extremamente provocativo e verdadeiro para todos que acreditam no amor."
Ao acompanhar o percurso do casal, vivenciamos com eles o furor da paixão, os inevitáveis desencantamentos cotidianos e, ainda, a liberdade e os insights que nos chegam com a maturidade. Botton não se atém apenas ao despertar do amor, mas elabora como esse sentimento pode se manter vivo ao longo dos anos. Mergulhamos com ele na forma como nossos ideais românticos aos poucos se modificam sob a pressão do dia a dia, e deparamos com os esplêndidos — e, às vezes, assustadores — desdobramentos de se descobrir que amar é, essencialmente, mais uma habilidade que precisamos aprender.
Espirituoso, perspicaz e profundamente comovente, O curso do amor é um guia e uma reflexão sobre os relacionamentos modernos. Os desafios da relação de Rabih e Kirsten são intercalados por comentários e anotações, o que resulta em uma narrativa ao mesmo tempo ficcional, filosófica e psicológica. Um livro extremamente provocativo e verdadeiro para todos que acreditam no amor."
Título: O curso do amor
Autor: Alain de Botton
Ano: 2017
Páginas: 253
Idioma: Português
Editora: Intrínseca
Nota: 3/5
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Livro cedido em parceria com a editora
Livro cedido em parceria com a editora
O curso do amor é um livro repleto de ensaios sobre temas ligados a filosofia da vida cotidiana, com foco na vida à dois. Dividido em cinco partes - romantismo, para sempre, filhos, adultério e além do romantismo - que contêm pequenos capítulos cada uma, o livro faz uma mistura de literatura e psicologia. O aspecto literário do livro está relacionado à narrativa focada em Rabih e sua mulher, Kristen. O autor narra a história priorizando o ponto de vista de Rabih e intercala com análises psicológicas do comportamento humano em geral que explicam cada situação vivida pelo protagonista, aí entra o aspecto psicológico da obra.
A narrativa acompanha, literalmente, o curso do amor de Rabih e Kristen. Alain de Botton praticamente transcreve pensamentos de um casal em todos os momentos da vida a dois, desde a primeira impressão, a primeira vez que um sentiu tesão pelo o outro, a primeira noite juntos, as pequenas discussões cotidianas que começam por detalhes e viram bolas de neve. De forma honesta, o leitor é apresentado a personagens extremamente reais, com pensamentos perfeitamente compreensíveis e nada romantizados. O curso do amor é praticamente um estudo antropológico em que o autor nos convida a assistir de perto uma terapia de casal completamente íntima e pessoal, com duas pessoas com traumas do passado que se encontram no meio do caminho e, acostumadas a andar sozinhas, precisam dar as mãos e acompanhar o ritmo um do outro.
“Eles saem para o terraço, iluminado apenas por uma série de grandes velas distribuídas pelos corrimões. A noite está clara e o universo veio ao encontro deles. Ela aponta para Andrômeda. Um avião se inclina ao passar sobre o Castelo de Edimburgo e então se prepara para aterrissar no aeroporto. Naquele momento, Rabih sente, com toda certeza do mundo, que aquela é a mulher ao lado de quem quer envelhecer." P. 51
Alain de Botton intercala a narração em terceira pessoa do dia a dia e dos pensamentos íntimos de Rabih e Kristen com análises psicológicas e filosóficas que explicam determinados sentimentos, determinadas reações e até mesmo o limbo de emoções, quase como se de fato fosse um psicólogo respondendo aos questionamentos do casal. Essas explicações quebram a narrativa em diversos momentos o que, no decorrer do livro, atrapalha a leitura ao se tornar cada vez mais frequente.
Rabih, em determinado momento da narrativa, revela a Kristen uma fantasia sexual que não lhe saía da cabeça. Como o casal sempre explorou o sexo de forma aberta e sem julgamentos, ele acredita que qualquer fetiche será aceito de bom grado pela esposa. Entretanto, Kristem se sente incomodada com aquela fantasia específica e forma-se então um atrito entre o casal. De um lado, Rabih se sente oprimido, do outro, Kristen se sente ameaçada. A partir desse exemplo, Alain de Botton apresenta os pensamentos de ambos os personagens, revela os verdadeiros sentimentos por trás desse desentendimento, faz uma pausa na narrativa e mostra como lidaram com a situação e como deveria ter sido a reação. Ao longo de toda a leitura, o autor explora o fato de que a maioria dos conflitos é causada por falta de diálogo e compreensão mútua de que a pessoa talvez também esteja reprimindo sentimentos que queria compartilhar. É uma maneira interessante de trabalhar um tema tão comum como a vida amorosa sem cair no senso comum.
A princípio essa estratégia me pareceu muito inteligente, uma forma diferente e inusitada de contar uma história na qual todo leitor pode se identificar de alguma forma e, além disso, tentar entender o porquê dessa identificação. Como o autor também apresenta algumas alternativas para conflitos naturais que surgem ao longo da convivência, o livro ganha um caráter utilitário. Entretanto, a frequência de interrupções aumenta de forma irritante e, muitas vezes, aleatória. As pausas que antes tornavam a leitura didática ganham destaque excessivo que prejudica o andar da história. O que antes parecia interessante torna-se monótono.
O livro mantém-se constante do início ao fim, mas é justamente essa constância que faz com que ele perca o fator surpresa e se torne tedioso. O exagero nos comentários torna a leitura um pouco arrastada já que são justamente as cenas entre o casal que fazem com que a leitura flua de forma natural.
Rabih e Kristen não se conheceram de um jeito hollywoodiano e não levam uma vida digna de filme, são um casal absolutamente comum que, assim como a maioria das pessoas, decide se aproximar de alguém o suficiente para compartilhar uma vida juntos. O casamento não é perfeito e um dos focos do livro é mostrar justamente como essa obsessão por uma relação estável, pacífica e infalível pode afastar o casal ao invés de aproximá-lo.
Alain de Botton tenta desconstruir algumas ideias como a da traição e monogamia com argumentos psicológicos e coloca em cheque com conceitos pré estabelecidos pela sociedade. Ele faz uso das ações de Rabih para embasar seus argumentos e criar questionamentos que me incomodaram um pouco e que não foram resolvidos ao final do livro. Fiquei com a impressão de que a resolução do livro foi muito rápida, mesmo que o objetivo do autor talvez fosse deixa-la um pouco em aberto.
Alain de Botton tenta desconstruir algumas ideias como a da traição e monogamia com argumentos psicológicos e coloca em cheque com conceitos pré estabelecidos pela sociedade. Ele faz uso das ações de Rabih para embasar seus argumentos e criar questionamentos que me incomodaram um pouco e que não foram resolvidos ao final do livro. Fiquei com a impressão de que a resolução do livro foi muito rápida, mesmo que o objetivo do autor talvez fosse deixa-la um pouco em aberto.
“No período inicial do amor, em certa medida há apenas um alívio por ser capaz, afinal, de revelar tanta coisa que precisava ser mantida em segredo em prol da dignidade. Podemos reconhecer que não somos tão respeitáveis ou sérios, tão equilibrados ou 'normais' quanto a sociedade acredita. Podemos ser infantis, criativos, desvairados, otimistas, cínicos, frágeis e várias outras coisas - a pessoa que amamos é capaz de entender e aceitar tudo isso em nós." P. 32
O curso do amor não é um livro que ficará marcado na mente do leitor. Talvez inconscientemente ele seja responsável por nos fazer repensar alguns hábitos e modos de lidar com o parceiro ou parceira e é uma leitura interessante do ponto de vista antropológico, quase como o novo Dr. Phill da literatura cotidiana. Apesar de ser uma obra que foge aos clichês, peca pelo excesso. Enquanto a maioria dos livros trata o amor como a solução para todos os males da vida, esse mostra como os males e inseguranças da vida podem prejudicar o amor. É uma nova leitura sobre a valorização da continuidade e da permanência dentro de um relacionamento que poderia muito bem ser o de qualquer leitor.
Se você gostou da resenha e quer conhecer outro livro da Intrínseca, confira a resenha de Paris para um e outros contos!
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“Declarar que o amor é 'perfeito' só pode ser um sinal de que não conseguimos entende-lo. Podemos afirmar que começamos a entender alguém apenas quando essa pessoa nos decepcionou muito. Porém, os problemas não são apenas delas. Quem quer que venhamos a conhecer, será bastante imperfeito: o estranho no trem, a velha conhecida da escola, o novo amigo virtual... Cada um deles com toda certeza virá a nos decepcionar. Os fatos da vida deformaram a natureza. Nenhum de nós saiu ileso." P.240
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