Do canto do quarto ela observava as luzes se
esgueirando pelas persianas
Atenta e contida ela sentia o mundo dar-lhe um beijo
no rosto
Como se aquilo fosse apenas mais um instante de uma
perfeição manente
Ela abraçava os joelhos e descansava o queixo nas mãos
Observava o pouco do mundo lá fora que ela permitia
entrar
Ela achava tudo tão belo, tão apaixonante
Ela queria se jogar naquela imensidão que aguardava atrás
da sua janela
Às vezes ela se levantava dali
Arriscava alguns passos tímidos e acanhados
Conseguia chegar até a persiana e espiava a vida
acontecer
Ah, como ela se encantava por todas aquelas cores e
sons
Naqueles momentos ela sentia que podia ser forte o
suficiente e sair daquele quarto
Chegava até mesmo a abrir uma fresta maior da janela
E se deliciava com o sol tocando-a com carinho
Como um velho conhecido que sentia sua falta
Então, de repente, algo acontecia e ela se via puxada
para trás
E voltava para o canto
Ela não entendia porque encontrava conforto naquela
prisão particular
Quando tudo o que podia ouvir era o pulsar de seu coração
no mais absoluto silêncio
Mas ela permanecia ali
Acolhida pela solidão
Em seu próprio mundinho particular
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