26 recomeços
As coisas mudam, ela pensou observando aquela água dourada pela luz do sol poente.
Bem ali, há vários anos, ela brincara naquelas águas, correra pela areia endurecida e se divertira com coisas que só crianças achavam graça.
Como ela gostaria de sentir aquela pureza de novo, aquela sensação maravilhosa de poder ser quem ela quisesse sem sequer pensar que estava sendo outra pessoa, eram apenas brincadeiras inocentes.
Doces eram aqueles momentos em que ela sorria sem pensar, ria sem querer, sonhava sem limites e amava qualquer um.
Enquanto ela se debruçava sobre aquele parapeito de madeira ela observava o que parecia ser o tempo passando em frente aos seus olhos.
Fazia tantos anos assim?, ela se perguntou nostálgica sentindo o vento bagunçar seus cabelos e trazer de volta sentimentos que ela nem se lembrava mais.
Grandes nuvens começavam a cobrir o céu à sua frente e ela temeu que aquela luz maravilhosa do fim de tarde fosse embora mais rápido do que ela esperava.
Horas haviam se passado desde que ela chegara ali, por acaso, e desde então não conseguia deixar o local, apenas se espreguiçava hora ou outra antes de voltar para sua posição inicial e continuar a deixar a mente vagar pelas lembranças.
Impressionante como simplesmente olhar para uma paisagem inocente pode trazer à tona tantos sentimentos enterrados à sete palmos, tantos diálogos que ela gostaria de ser esquecido, tantas cenas que ela prometera a si mesma que nunca mais iria relembrar.
Jamais pensara que voltaria ali, não depois de tantos anos sem retornar àquela cidadezinha costeira que guardava uma parte tão gostosa de sua infância e uma dor tão afiada da sua adolescência.
Karma, talvez?
Lembrava de sua promessa de jamais sair daquela cidade e agora sentia o peso da promessa de que jamais voltaria.
Mas lá estava ela, sentindo seu coração pesado e as mãos suando por conta do medo de que a vissem ali, de que lembrassem da amargura com que ela deixou tudo para trás sem nunca olhar por cima do ombro.
Nada podia prepará-la para o mundo que a esperava longe dali.
“O seu café, madame”, disse a simpática garçonete assustando-a um pouco enquanto lhe estendia uma caneca grande o suficiente para que ela precisasse usar as duas mãos para segurá-la de forma confortável.
Para alguém que passara a vida inteira em uma cidadezinha tão aconchegante e interiorana como aquela, as escuras esquinas do mundo poderiam ser assustadoras.
Quando teve seu coração partido pelas perspectivas da vida que parecia ter sido designada pra ela, soube que precisava sair dali o mais rápido possível, precisava encontra algum lugar que fosse grande o suficiente para acomodar seus sonhos e quem ela acreditara que se tornaria.
Reuniu toda a sua coragem, juntou suas coisas, fez as malas e disse adeus àquela vida com uma breve despedida e nada mais do que poucas palavras para explicar que simplesmente não nascera para ter aquela vida monótona e, como ela acreditara, vazia.
Saiu de casa procurando ser uma pessoa melhor, maior, mas mal sabia que ela sempre teve tudo e que tudo estava bem ali à sua frente.
Tão jovem, ela pensou que estava fazendo a escolha correta, deixando uma parte de si para trás, um passado que ela enterrou a sete palmos para mostrar que aquela parte de si havia morrido.
Um futuro brilhante era o que imaginara para si quando deixou aquelas casas coloridas para trás; ela podia jurar que vira uma estrada enorme e brilhante se abrindo à sua frente.
Verdade seja dita, ela não havia cometido um erro ao ir embora, havia se enganado ao acreditar que nada daquilo que ficara para trás faria falta depois.
“Wow”, ouviu uma exclamação e ficou paralisada com medo de que fosse dirigida a ela, mas alguns instantes depois escutou a mesma voz conversando com outra pessoa sobre o time de futebol local.
Xingou-e mentalmente por ficar tão tensa, estava na sua cidade natal, podia visitá-la sem se sentir horrível por ter partido daquela forma.
“Yuppie”, quase verbalizou como uma criança ao pensar em dar meia volta e se perder no mundo de novo, parecia extremamente tentador.
Zombou de si mesma por um momento, mas só um pouquinho, porque estava na hora de voltar para casa e recomeçar.
*Para fins de direitos autorais, declaro que as imagens utilizadas neste post não pertencem ao blog. Qualquer problema ou reclamação quanto aos direitos de imagem podem ser feitas diretamente com nosso contato. Atenderemos prontamente. Fonte: brandymelvilleusa.
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4 comments
Que lindo o texto Laura, você conseguiu concluir bem mas com certeza me imaginei lendo um capítulo de livro. Eu nunca perceberia que cada parágrafo começa com uma letra do alfabeto até aleatoriamente descer e ver você contando isso no seu twitter, hahah Ficou demais :)
ResponderExcluirBeijo!
Sorriso Espontâneo
OI, Betânia! Muito obrigada pela visita, pelo comentário e pelo elogio ahaha Fico feliz que não tenha percebido porque aí parece mais natural, né? <3
ExcluirQue coisa mais linda e intensa, você escreve tão bem, já quero ler mais coisas <3
ResponderExcluirShaunne
Oi, Renata! Muito obrigada por esse comentário, você fez meu dia!! Espero que continua visitando o blog, estou sempre postando coisas assim <3
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