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10 de fev. de 2017

Aconteceu naquele verão


O cheiro salgado da brisa do mar era como uma lufada de ar fresco que ela há muito tempo não sentia. Os minúsculos grãos de areia escorriam pela sua pele como ousados pontinhos dourados. A sensação era esfoliante e agradável. O grosso tapete de areia em baixo de seu corpo ameaçava engoli-la a qualquer momento.
Ela mantinha o olhar na sua esquerda, com a cabeça descansando em uma pequena saída de praia dobrada para servir de travesseiro. Tudo parecia estar no mais perfeito lugar.
Ela adorava o mar, era uma realidade tão distante que ela tentava aproveitar cada segundo quando tivesse oportunidade. Gostava de observar as pessoas se entretendo com esportes na areia, se divertia com as quedas daqueles que estavam aprendendo a surfar, observava o comportamento tímido e receoso de casais se conhecendo. Ela gostava de ver o mundo girando, a vida acontecendo diante dos seus olhos. Gostava da sensação de se recolher um pouco e se tornar uma mera observadora do mundo. Ela estava sentada debaixo de um guarda sol perfeitamente posicionado para proteger-lhe todo o corpo.
Um garoto que não devia ter mais que cinco anos se divertia correndo atrás das ondas e fugindo quando eram elas que o perseguiam. Há uma curta distância sua mãe o observava atentamente com um sorriso tranquilo. De vez em quando ele voltava correndo para lhe contar as pequenas e incríveis aventuras que vivenciava e ela apenas sorria e assentia.
Um movimento chamou sua atenção pela visão periférica. Uma pequena formiga se aventurava pelo deserto de areia movendo as minúsculas patinhas de forma quase hipnotizante. Ela não conseguia tirar os olhos do bichinho que era pouco maior que os grãos que cobriam aquele tapete dourado. Quando a formiga sumiu de vista, ela estendeu o braço esquerdo até o ponto em que a sombra não mais a alcançava.
Poucos instantes depois ela já começou a sentir uma onda de calor acariciando sua pele nua. Ela moveu as mãos um pouquinho tentando cobrir o seu braço todo de luz.
O barulho das ondas de quebrando na areia, o calor do sol acariciando sua pele, o gosto de sal na ponta de sua língua, aquilo era verão pra ela.
- Ei - Uma voz grossa a chamou.
Ela virou o rosto para baixo, para a voz tão familiar que lhe chamava.
Ele estava deitado com a cabeça em seu colo e a toalha que antes servira de escudo para o vento que castigava, agora estava jogada na areia.
Ela sorriu e passou uma mão por sua testa, tirando alguns fios de cabelo de seus olhos. Ele olhava para ela com os olhos entreabertos, com aquela cara amassada de sono. Mesmo daquele jeito ela achava que era o homem mais lindo do mundo.
- Olá - ela sorriu apaixonada.
- Quanto tempo eu dormi? - ele perguntou com a voz rouca mais deliciosa de todas.
- Uns quarenta minutos - ela respondeu.
Ele se espreguiçou um pouco e se aninhou mais no colo dela. Ergueu a mão e acariciou seu rosto com carinho. Com uma mão, ela manteve a dele ali, em sua bochecha. Beijou a palma da mão dele com suavidade.
Ela estava enganada.
O barulho das ondas de quebrando na areia, o calor do sol acariciando sua pele, o gosto de sal na ponta de sua língua. E ele. Bem ali com ela, naquele momento, daquele jeito. Aquilo sim era verão. Aquilo sim era amor.

RECADO MAIS QUE ESPECIAL: Chegou ao fim a semana de Aconteceu naquele verão e pensei que não teria forma melhor de encerrar esses cinco dias de posts do que com um mini conto muito especial pra mim. Espero que tenham gostado da semana de posts diários, foi um desafio enorme conseguir me programar direitinho e escrever os posts do jeito que eu queria. Me conta qual dos posts você mais gostou e porque, vou adorar saber. Espero que todos estejam tendo dias maravilhosos de verão. Muitas energias positivas e, claro, muito amor pra todo mundo <3

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