Um pulo necessário
O momento em que você percebe que vai amar uma pessoa parece um
daqueles momentos pequenos mas, de alguma forma, extremamente decisivos. Você
já está se apaixonando, é delicioso, estranho, novo e incrível.
É como estar se desequilibrando à beira de um precipício e olhar
para baixo. Você sabe que vai cair, é inevitável, já fugiu ao seu controle. Mas
você olha para baixo mesmo assim e tenta imaginar como será a queda. Você sabe
que não consegue, você vai ter que cair para descobrir.
É como tentar se segurar em algo enquanto mergulha em queda livre.
É aquele último momento de lucidez antes de se entregar completamente à loucura
de se dar à alguém. Você tem medo de estar sozinho nisso tudo, se sente
mergulhado em tanta imensidão. Parece que aquele vai ser o fim de alguma parte
de si, você sabe que já é tarde demais para voltar atrás. A partir daquele
momento você nunca mais vai ser o mesmo. Alguém vai ter um pequeno poder sobre
você. E é completamente aterrorizante.
Então os segundos passam e tudo muda. O chão some sob seus pés e o
vento acaricia sua pele. Aquele pânico se torna um delicioso frio na barriga e
aquele pavor se transforma em uma lembrança, em nada mais que um sorriso
amarelo. Você percebe que, mesmo tendo perdido um pouco do controle, o entregou
por um motivo. Entregou para alguém. Agora você tem braços que irão te segurar
quando cair. E uma vozinha dentro de você sussurra que talvez valha a pena, que
é preciso tentar para se arrepender. Ou não.
Amar alguém é ter aquela certeza de que, por mais apavorante que
seja olhar para baixo, a sensação que virá logo em seguida é de arrepiar todos
os pelos do corpo. É saber que, no final, a entrega valeu completamente a pena.
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