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21 de ago. de 2016

Norte


Ela sempre gostou de mergulhar em histórias. Sentia sede de viver momentos que estivessem fora de seu alcance, adorava sentir seu peito se enchendo de alegria ao passar páginas inéditas. Por muito tempo se sentia quase completa apenas com aqueles simples instantes em que podia se dar ao luxo de deixar que outra realidade tomasse conta de sua mente. Deixava com que as histórias que lia fossem seu norte. 

Ela estava sentada em frente a uma escrivaninha com um livro aberto à sua frente. Em silêncio ela corria os olhos pelas páginas amareladas e apoiava o rosto em uma das mãos. Era uma tarde tranquila, até os passarinhos do lado de fora pareciam serenos e despreocupados. Ela se sentia... Bem.

Estava mergulhada em sua leitura e quase não foi capaz de ouvir um murmúrio contido. Olhou para a cama há alguns centímetros de distância e sentiu um sorriso tomando conta de seus lábios. Sequer tentou contê-lo. 

Ele estava deitado com metade do corpo sendo coberto por um lençol. Seus olhos estavam fechados em um sono profundo e sua boca, levemente entreaberta, parecia extremamente convidativa. Ela não pôde evitar a tentação de ficar ali encarando-o, se perguntando o que ele poderia estar sonhando. Não fazia muito tempo que ele adormecera, mas sonhos dos mais diversos pareciam tomar conta de sua mente e saiam para brincar em suas sobrancelhas. 

Ela mudou de posição na cadeira pra poder observá-lo melhor. 

Seus cabelos castanhos estavam mais compridos que o habitual, caíam rebeldes em sua testa e se espalhavam pelo travesseiro. Ele estava sem camisa e ela podia ver os contornos perfeitamente marcados de seu peitoral e braços. Um dos braços sumia embaixo do travesseiro, mas o outro descansava por cima do fino lençol. Ela sentiu inveja daquele pedaço de pano que parecia se moldar ao corpo dele. 

Ele respirou profundamente e por um instante ela achou que ele fosse abrir os olhos. Quando ele continuou cochilando, ela deixou escapar um riso baixo e suspirou. Poderia ficar sentada naquele exato lugar apenas admirando-o por um bom tempo. 

Esqueceu-se completamente do livro que descansava em cima da mesa. Esqueceu-se de tudo que estava lendo. Esqueceu-se daquela estranha história. Afinal... Agora ela estava olhando pra a sua história. 

Levantou-se da cadeira sem se preocupar em não fazer barulho. Ela precisava dele. Sentia falta dele e ele estava bem na sua frente, ao alcance de seus braços, de suas mãos, de seus dedos. E foi o que ela fez. 

Foi até a cama, até ele, e passou cuidadosamente por cima de seu corpo de modo que ficou entre ele e a parede. Levantou o lençol que o cobria e se aninhou no corpo dele. Ergueu o braço musculoso que descansava sobre o próprio corpo e se aninhou naquele calor. Agora ela podia enterrar o rosto no pescoço dele e se perder naquele cheiro por alguns instantes. Ele tinha um cheio amadeirado, delicioso, familiar. Depositou um beijo em seu maxilar tentando fazer com que pelo menos um décimo do que sentia pudesse magicamente ser absorvido pela pele dele. 

Deitada com seus corpos colados ela podia sentir todo o corpo formigar. Como um momento tão simples e calmo como aquele podia fazer com que seu coração disparasse dentro do peito? Ela se sentia melhor do que em muito tempo. Nunca havia se sentido daquele jeito e estava facilmente ficando viciada no sentimento que ele despertava. Havia se apaixonado pelo amor que sentia por esse homem. E a vida nunca foi tão doce. 

Após alguns segundos ela pôde sentir uma mudança, ele já não respirava mais tão profundamente e seu corpo buscou o dela de forma desengonçada e sonolenta. Ela sorriu quando ele gemeu baixinho e tentou murmurar alguma coisa. Lentamente ele abriu os olhos e ela podia jurar que seu coração havia perdido uma batida. 

Quando seus olhares se encontraram ele sorriu e ela não pôde fazer absolutamente nada além de sorrir de volta da forma mais sincera que já sorriu na vida. Sentiu vontade de chorar por conta da intensidade daquilo que acontecia dentro dela. Ela sabia que o amava. Sua mente não tinha dúvidas. Sua alma então... Mas quando seu corpo decidia que tinha que provar que o amava...

Ele puxou seu corpo para mais perto e ela aproveitou a deixa para beijar sua boca. Impossível descrever o calor que se espalhou por seu corpo, o gosto adocicado que tomou conta de sua língua e a sensação de puro deleite que fazia tudo ao seu redor se resumir a ele. Ele era seu norte. 

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