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11 de jul. de 2016

Muda, vai


Sempre invejei os desapegados, aqueles que, de uma hora pra outra, conseguem abrir mão do seu conforto e se aventurar por outros cotidianos. 

Tenho uma amiga que mudou a vida inteira, difícil dizer quantos anos no máximo ela passou em algumas cidades. Já morou em Belo Horizonte, no Rio, em São Paulo, voltou pra BH, quase foi pra Curitiba e hoje mora na capital paulista de novo. Sabe-se lá quantas cidades ficaram perdidas nesse meio tempo. Outro amigo meu também quase vive de mudança, mesmo que essa eventualmente seja mais demorada. Já morou em Nova York, no Rio, Cambrige, voltou para a capital mineira onde nasceu e atualmente vive em Tulsa, capital do estado de Oklahoma, no meio de um nada bem desértico, diz ele. Meu namorado é outro caso incrível, morou a vida inteira no interior de Minas, nasceu e cresceu em Oliveira, uma cidade adorável há uns 100 quilômetros de Belo Horizonte. Foi morar na capital por um ano até se mudar para Cuiabá para estudar. Hoje ele faz planos para morar um tempo nos Estados Unidos, o lugar ao certo nem sabe ainda. 

Quem me conhece sabe que uma das coisas que mais amo na vida é viajar, sair por aí de malas prontas para conhecer lugares novos, conversar com pessoas diferentes e acumular histórias pra contar. Sempre pensei em mim mesma como uma alma livre, uma pessoinha com vontades gigantes e um desejo insaciável de viver a vida. Sair por aí sempre foi muito fácil pra mim. Viajar sozinha? Nem hesito mais. Mas hoje percebo que, por mais que eu ansiasse por me aventurar durante algumas semanas, a ideia de me mudar para outro lugar além daquele que estou acostumada me embrulhava o estômago.

 Me sentia como um passarinho que sabe que precisa voar uma hora ou outra, mas ainda não dá aquele pulinho essencial. Ele sabe que tem asas, sabe para quê elas funcionam, mas sente que elas ainda são pequenas demais para alçarem voo, elas ainda são frágeis. Imaturas. 

Acho que meu maior medo é a mudança. Não ela em si, mas a ideia de mudar. Moro em Belo Horizonte, nasci e cresci em terras mineiras. Sempre disse que não moraria em nenhuma outra cidade brasileira, não me via caminhando por outras ruas muito menos chamar aquele lugar de casa. Não que eu amasse a capital mineira com todas as minhas forças, eu adoro, mas eu simplesmente não me via em outras esquinas sem ser as minhas conhecidas belorizontinas. Já viajei bastante para alguém da minha idade, mas, por mais que eu me encantasse por um lugar, não conseguia pensar em me mudar sem sentir um desconforto gigantesco. Para alguém que vive reclamando de rotina, a ideia de abandonar a minha parecia nauseante. 

Nova York sempre esteve nos planos, até pouco tempo era o único lugar que me atraía como moradia, desde que pus os pés lá pela primeira vez, se tornou um dos poucos lugares que não fazia meu estômago embrulhar de ansiedade e se contorcer de nervosismo. Foi então que fui ficando mais velha de corpo, mente e alma e percebi que algumas coisas mudaram. Eu só não tinha notado o quanto. 

Passei uma semana em São Paulo por causa de um congresso de jornalismo e, pela primeira vez em muito tempo, me vi andando por aquelas ruas voltando de um supermercado, de um curso qualquer, de um barzinho com a galera, de um café com letras bem recatado. Me vi parada no trânsito sintonizando em uma rádio qualquer antes de começar a Voz do Brasil. A ideia de uma kitnet na Vila Mariana não era nada repugnante. Arrisco até em dizer que parecia... Aconchegante. 

Logo em seguida fui para Cuiabá passar umas semanas com meu namorado. Não sei bem o que aconteceu comigo de uns tempos para cá, mas não sinto mais como se não tivesse um lugar. Acho que percebi que qualquer lugar pode ser meu de alguma forma. Jamais passou pela minha cabeça a possibilidade de morar no Mato Grosso, nem por um instante. Mas quando me dei conta estava analisando as casinhas do bairro Boa Esperança e pensando em como morar ali deve ser gostoso, uma calmaria em uma capital quente e acolhedora.  

Percebi que meu medo não é me mudar, é a ideia de mudança. E quando percebi que mudar não é abandonar, parece que as cosas fizeram um pouco mais de sentido pra mim. Sempre anseio por novidade, por aquela quebra de rotina, aquele arrepio temporário que sobe pela coluna com uma promessa de lembranças inesquecíveis e deliciosas. Mas, de alguma forma, pensar em mudar quase que irreversivelmente alguma parte da minha vida era o suficiente para me causar ataques de pânico. 

Não sei bem o que mudou, é difícil apontar o dedo para o momento exato em que eu percebi que fazer as malas e chamar outro lugar de casa não parecia mais o fim do mundo. Sei que acabei percebendo que casa realmente não é um lugar, é um estado de espírito, é um conforto sem endereço e telefone. Poucas coisas me libertaram mais do que essa percepção, pois entendi que o mundo é meu não só pra visitar de vez em quando, pra turistar nas horas vagas. O mundo pode ser meu, nosso, e de quem quer que esteja disposto a se descobrir e redescobrir em cada esquina diferente. 

*Para fins de direitos autorais, declaro que as imagens utilizadas neste post não pertencem ao blog. Qualquer problema ou reclamação quanto aos direitos de imagem podem ser feitas diretamente com nosso contato. Atenderemos prontamente. Fonte: Google imagens.

8 comentários:

  1. Que lindo 😍😍😍😍
    Mudar as vezes é preciso né!!

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    1. Muito obrigada! Mudar pode ser a coisa mais assustadora é incrível de todas <3

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  2. Amo mudança Laura, não sei nem descrever. Já morei em.duas cidades e 4 casas diferentes e toda vez que imagino o futuro é num lugar diferente. O lugar da gente é onde estiver nossa felicidade. Lindo texto.

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  3. Amo mudança Laura, não sei nem descrever. Já morei em.duas cidades e 4 casas diferentes e toda vez que imagino o futuro é num lugar diferente. O lugar da gente é onde estiver nossa felicidade. Lindo texto.

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    1. Jura, Lu? Isso é muito inspirador, de verdade. Muito obrigada pela visita e pelo comentário, é sempre bom te ver por aqui <3

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  4. Eu amo mudanças e amo viajar , eu nunca gostei da minha cidade não me sentia bem em morar lá mais sempre volto por causa dos pais
    Já morei no rio de janeiro , campinas-sp, Goiânia , e fiquei dois anos entre Sorocaba _SP é SP capital , eu amo quando estou fora me sinto mais motivada sinto as energias diferentes , no momento estou na minha cidade porque estava casada , mais já estou me planejando daqui 3 meses ir pra Sorocaba ,mais a minha vontade é sair do Brasil , estou pensando em Alemanha , Inglaterra ou Tóquio ,

    Sempre viajei desde criança com menos de 20 anos conhecia cidades variadas de 8 estados

    Estou até pensando em Faculdade de Turismo 💗

    Não tenha medo de mudanças , elas acrescentam muito no nosso dia a dia e nos tornam pessoas melhores

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  5. Oi, Daniane! Como foi morar em tantas cidades? Sempre me pergunto porque morei a vida inteira no mesmo lugar. A Alemanha é incrível, te indicaria ela para se mudar ahaha Acho incrível você ter toda essa experiência de vida, com certeza você aprendeu e viveu mais do que muita gente que, como eu, vive desde sempre no mesmo lugar. Pelo que você me disse, acho que Turismo seria perfeito, não é mesmo? ;)
    Muito obrigada pelo comentário e por partilhar um pouco das suas experiências comigo <3

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  6. Me vi muito nesse texto. Só que eu acho que mudei de um jeito diferente, eu meio que criei uma dependência enorme da minha casa, o que eu ando percebendo que não é nada bom. Eu sempre amei viajar, mas de uns tempos pra cá notei como eu não me animo mais em fazer isso, ficar longe. E olha que eu saí do inteiro de Minas para fazer faculdade na divisa ente SP e PR. Mas acho que são fases e a gente vai mudando e elas mudam também. O começo da minha adaptação na cidade onde moro hoje foi terrível, mas agora amo aquele lugar. E já penso em me mudar de novo. Meio confuso meu comentário, mas hahahaha

    Beijos

    http://barrados-nobaile.wixsite.com/meusite

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