O mundo parecia minúsculo sob seus pés. Ela olhava pela janela e
via as infinitas luzes se movendo lentamente enquanto cruzava os céus.
Havia algum tempo que seu medo de avião nasceu, não foi sempre
assim e ela sentia falta daquela época. Gostaria de sentar naquelas poltronas
apertadas e não sentir como se estivesse flutuando dentro de uma caixa de metal
que poderia cair a qualquer instante. Ao contrário de outros que compartilhavam
seu medo, ela sempre escolhia a janela. Gostava de olhar para fora e perceber a
pequenez do mundo que conhecia. De alguma forma ver a terra se movendo embaixo
de si a acalmava.
Ela gostava de observar a paisagem mudando constantemente durante
o dia, se revezando entre o verde da flora, o cinza do concreto e o branco das
nuvens. De noite era mais preocupante, raramente conseguia enxergar algo além
do próprio reflexo pintado sobre a escuridão da sua janela. Por isso apreciava
aqueles raros momentos em que o céu estava limpo e as minúsculas luzes urbanas
chegavam até ela. Respirava aliviada cada vez que tentava numerar os pontinhos
alaranjados e perdia a conta. Um fôlego muito bem vindo.
Naquele dia ela observou atenta enquanto o céu era claro era
pintado de um laranja forte, quase vermelho, até escurecer completamente e a
noite cobrir o avião. Era uma viagem mais longa do que gostaria, mas menor do
que estava acostumada.
Até aquele momento ela não se permitira pensar muito a respeito do
que a fez comprar aquela passagem, não queria dar ao seu coração mais um motivo
para se inquietar. Por isso teve uma viagem razoavelmente tranquila, conseguiu
o assento vazio ao seu lado e se permitiu colocar os pés para cima e assistir
uma série de comédia para tentar fazer o tempo passar mais rápido. E aquela
quietude durou bem. Até aquele momento.
A voz do comandante fez com que olhasse para a janela e se
maravilhasse com as luzes que começavam a ficar, lentamente, cada vez maiores e
a tomar forma. Ela podia sentir o movimento sutil do avião, o que indicava que
estavam descendo.
Depois de tanto tempo... Ela estava quase lá.
Nem todos os pontos luminosos do mundo seriam capaz de conter a
histeria que tomava seu coração. Ela podia de fato sentí-lo batendo em seu
peito, clamando por atenção. Afivelou os cintos, guardou o notebook e recolheu
seus pertences. Nada a acalmou. Precisou colocar os fones de ouvido de novo e
escolher algumas das suas músicas favoritas para tentar fazer seu coração bater
pelo menos um pouco mais devagar.
Agora ela enxergava casas e prédios sob seus pés, era nas luzes
das janelas que ela se concentrava. O pouso foi suave, ela não temia essa
parte. De jeito nenhum. O relógio pareceu parar o tempo quando todos já estavam
com suas pequenas malas nas mãos esperando para sair. Quando finalmente a porta
foi aberta, ela precisou se lembrar de como mover os pés naturalmente. Como
desceu aquelas escadas, ela não faz ideia. E não importa.
Percebeu a brusca mudança de temperatura assim que colocou os pés
na pista. O clima estava quente e abafado e mesmo assim um tremor tomou conta
de seu corpo. Enquanto seguia os outros passageiros pela pista de pouso até as
portas automáticas do aeroporto, ela respirou fundo e tentou arrumar os cabelos
que voavam de forma confusa.
Quando atravessou aquelas portas, sentiu vontade de parar por um
momento. E pararia para respirar fundo se seus pés não estivessem andando
sozinhos. Alguns segundos depois, parado no meio de pessoas que ela nem se deu
ao trabalho de olhar, estava ele. Nem toda força de vontade do mundo
conseguiria impedir o sorriso que tomou seus lábios. Nem todo autocontrole
seria capaz de fazer suas pernas se moverem mais devagar. Abrindo espaço por
entre estranhos, praticamente correu até o sorriso deliciosamente familiar que
se abria pra ela. Só pra ela.
Quando sentiu os braços dele em volta de seu corpo, sentiu como se
tudo tivesse entrado nos eixos de novo. Ela respirou fundo e recebeu o cheiro
dele como a primeira lufada de ar depois de um tempo sem respirar. Sentiu tanta
falta daquele calor... Quando seus olhares se encontraram e seus lábios se
procuraram, ela entendeu o real significado de valer a pena. Todo aquele tempo
afastados era uma penitência diária, uma luta constante. Mas reencontrá-lo era
sempre algo memorável.
Era como se ela se apaixonasse pela primeira vez de novo e de
novo. E era sempre assustador e incrível, tudo ao mesmo tempo.
Naquele momento ela pensou que se apaixonaria quinhentas vezes,
cruzaria os céus centenas de vezes, esperaria o tempo que precisasse, contanto
que fosse por ele, contanto que fosse ele o dono daqueles braços abertos e
sorriso apaixonado. Contanto que fosse ele segurando aquela rosa nas mãos e
sussurrando em seu ouvido, tudo ficaria bem.
*Para fins de direitos autorais, declaro que as imagens utilizadas neste post não pertencem ao blog. Qualquer problema ou reclamação quanto aos direitos de imagem podem ser feitas diretamente com nosso contato. Atenderemos prontamente. Fonte: Pinterest.
*Para fins de direitos autorais, declaro que as imagens utilizadas neste post não pertencem ao blog. Qualquer problema ou reclamação quanto aos direitos de imagem podem ser feitas diretamente com nosso contato. Atenderemos prontamente. Fonte: Pinterest.
6 comments
Que lindo texto. Amo essas histórias, poesias e romances. Muito bonito esse sentimento, nos faz mais felizes não é?
ResponderExcluirAmei o post.
Bjss <3
www.chuvanojardim.com.br
Fico feliz que tenha gostado, Rê <3
ExcluirNossa, que texto lindo!!! Eu amei <3
ResponderExcluirwww.antesdaprimavera.com.br
Muito obrigada, Victória <3
ExcluirVocê e esses teus textos 💖
ResponderExcluirMafê, você por aqui <3
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