Resenha: A arte do descaso
A arte do descaso apareceu para mim de mansinho. Em meio
a tantos lançamentos incríveis da Intrínseca, algo nesse livro me chamou a
atenção. Passei a me interessar muito por livros-reportagens e, quando descobri
que esse contava a história do maior roubo a museu do Brasil, não resisti. Pouquíssimo
se fala a respeito do caso e Cristina traz à tona esse mistério fazendo uma
denúncia muito válida à justiça brasileira.
“Em pleno Carnaval, quatro homens
invadiram o Museu da Chácara do Céu, no bairro de Santa Teresa no Rio de
Janeiro, e roubaram cinco obras de arte: um Dalí, um Matisse, um Monet e dois
Picassos, cujo valor estimado, na época, ultrapassava 10 milhões de dólares.
Naquela tarde de 24 de fevereiro de 2006, os ladrões, de posse de uma granada,
renderam os três seguranças, desligaram o sistema de câmeras de vigilância e
fizeram nove reféns. Um dos invasores subiu em um móvel histórico para, com uma
faca, cortar os fios de náilon que seguravam um dos quadros. Meia hora depois,
saíram pela mata para nunca mais serem vistos. Até hoje se trata do maior roubo
de arte do Brasil e do oitavo do mundo.
Decidida a desvendar o mistério, a
jornalista Cristina Tardáguila chegou a se colocar em situações de risco a fim
de encontrar respostas. Em sua jornada, ela viajou para a Europa e mergulhou no
mundo obscuro dos crimes de arte. A partir de meticulosa apuração dos eventos,
muito maior do que a da própria polícia conseguiu levantar, a autora produziu
uma narrativa vibrante, cheia de reviravoltas dignas de um thriller, construída
apenas com fatos.”
A arte do descaso vai
ficar na minha cabeça por um bom tempo. À medida que ia lendo o relato de
Cristina sobre o roubo ao Museu da Chácara do Céu, me questionei por que quase
ninguém sabe ou fala a respeito do caso. Não só é o maior roubo a museu do
Brasil, como é o oitavo do mundo! Além de seu jeito de escrever, fui sugada
para dentro da narrativa por conta das histórias e curiosidades que completam
um caso tão intrigante.
Ao passar as primeiras páginas, a impressão é de que
estamos lendo um thriller policial. Cristina começa seu livro como uma
narradora em terceira pessoa, descrevendo os assaltantes, os reféns, as obras e
o museu. À primeira vista esquecemos que tudo o que está escrito ali realmente
aconteceu. Mesmo quando ela se apresenta e mergulha na história, não fica
cansativo ou maçante como muitos livros-reportagem. Sua escrita é clara e objetiva,
nada cansativa. A autora mescla uma narrativa literária com um texto
jornalístico muito fácil de ser lido e prazeroso. Algumas fotografias completam
as informações, deixando o texto ainda mais fluido e descritivo.
A princípio, o livro se baseia todo no roubo e nos momentos
que se seguiram, entretanto, com o passar do relato e das apurações pessoais de
Cristina, a narrativa se torna uma denúncia importantíssima às instituições
brasileiras. Apesar da visibilidade inicial do roubo, o descaso para com a
investigação ganha destaque e passa a ser o assunto central do livro de
Tardáguila. Será que o roubo de obras de arte não merece uma verdadeira
mobilização por parte dos encarregados pelas investigações? Por que um roubo
tão notório caiu tão rapidamente no esquecimento geral?
Cristina relata passo a passo da invasão do museu da Chácara
do Céu; mostra detalhes contados por alguns dos reféns; aponta as falhas na
segurança; critica o despreparo de alguns dos agentes encarregados do caso. O
livro é extremamente interessante não apenas do ponto de visto jornalístico.
Cristina consegue mesclar jornalismo, literatura e história. Ao longo do livro
ela estabelece paralelos com vários outros roubos de obras de arte acontecidos
em outros países e conta brevemente como cada uma das investigações conseguiu –
ou não – solucioná-los. Uma das partes mais interessantes apresenta os
diferentes perfis de ladrões de obras de arte, com exemplos e curiosidades a
respeito de cada caso. É muito gostoso passar as páginas de “A arte do descaso”,
Cristina consegue prender o leitor de uma maneira maravilhosa.
Como
estudante de jornalismo, fiquei impressionada com a dedicação de Cristina ao
apurar o caso, viajando para conversar com instituições internacionais e
entrando em contato com ex-condenados, fazendo mais do que os encarregados pela
investigação. A jornalista conta que tinha a ambição de ajudar nas
investigações e, quem sabe, resolver o caso do maior roubo a museu do Brasil, e
sua dedicação e capacidade ficam visíveis a cada parágrafo.
A arte do descaso
conta uma história que os brasileiros podem e dever tomar conhecimento. Seja
pelo caso em si, seja por toda a negligência das instituições encarregadas de
resolver o maior roubo a museu do nosso país. O livro é extremamente
interessante, bem trabalhado e escrito. Imperdível.
A arte do descaso foi escrito por Cristina Tardáguila e publicado pela
editora Intrínseca.
Classificação: 4/5
estrelas.
“Em pouco
mais de três horas, já se suspeitava que o Museu da Chácara do Céu havia se
transformado no palco de um dos maiores roubos de arte do Brasil. Naquela noite
de 24 de fevereiro de 2006, sites, rádios e telejornais alardearam o crime pelo
território nacional, enquanto agências de notícias ecoaram-no no exterior. Em
todas as reportagens, destacavam-se a importância das obras levadas, o seu
valor, pois estavam entre as mais valiosas da coleção, e o fato de não
possuírem nenhum tipo de seguro. Os nomes de Picasso, Matisse, Monet e Dalí
chamavam uma atenção brutal. Os ministérios da Cultura, da Justiça e das
Relações Exteriores foram alertados em poucas horas, assim como a International
Criminal Police Organization (Interpol). Mas não demorou para que o roubo
caísse no mais completo esquecimento.
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2 comments
Nossa!!! Que incrível historia!!
ResponderExcluirAmei a resenha e me interessei muito em ler.
Amo livros demais e estou sempre a procura, jamais me canso kk
Amo blogs de resenha de livros!!
bjss
Já estou seguindo seu blog.
www.chuvanojardim.com.br
Muito obrigada, Rê! Fico feliz que tenha gostado e espero te ver mais vezes aqui no blog, seja muito bem vinda <3
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