Sábado de manhã
Os sons da metrópole de pé vagavam até a sua janela. Alguns mais tímidos e
cautelosos não passavam de murmúrios, outros barulhos mais desimpedidos e
estridentes não tinham vergonha em se anunciar. Carros acerando, buzinas se queixando,
obras em andamento, festas sendo montadas. De todas as partes do bairro vinham
sons bater à sua janela. Vários cotidianos aconteciam a todo momento, pessoas
vivendo suas vidas alheias ao fato de estarem vivendo-as. Os barulhos da cidade
eram como um "bom dia" para aquela que estava disposta a escutá-los.
De certa forma ela se sentia reconfortada com todos aqueles estímulos.
Era sábado de manhã e seu dia ainda não havia começado. Deitada entre
cobertas e devaneios, ela passava páginas e corria os olhos por frases soltas.
Não estava pronta para sair dali ainda, ou talvez não tivesse ideia do que
deveria fazer em seguida. As conversas abafadas pelo vento fizeram com que ela
deixasse seu livro de lado por um momento e levasse sua atenção para a cortina
que se movia na janela entreaberta.
Naquela manhã a cidade parecia diferente. A acústica de sons e vidas
chegava aos seus ouvidos de uma maneira mais intensa do que estava acostumada.
Talvez fosse ela. Talvez fosse a fase da Lua. Quem sabe?
Forçou seus músculos cansados pelo sono a se moverem até a janela do
quarto. Ficou por um momento tentando absorver aquela banalidade corriqueira.
Alguns poucos carros cruzavam as ruas do bairro com tranquilidade. Para onde
eles estariam indo, ela se perguntou. A claridade incomodava um pouco seus
olhos, o brilho do sol nas altas janelas dos prédios refletia uma manhã de um
sábado qualquer. Em volta de uma tímida piscina, no topo de um dos prédios,
dois moleques chutavam uma bola enquanto um deles narrava as jogadas como um
radialista. Será que sonhavam em ser estrelas do seu time do coração? Um dia
talvez fossem. Do outro lado da rua alguns homens carregavam mesas e cadeiras
por um salão de festas. Aquela tarde seria barulhenta com certeza.
Ela adorava momentos como aquele em que a vida simplesmente acontecia.
Para onde quer que seus ouvidos se atentassem, algo estaria em andamento, uma
eterna obra de pequenos cotidianos. Era como se, naquele instante, ela sequer
existisse. O silêncio dentro de si contrastava com o incessante correr do tempo
lá fora. Era apaziguante.
Se ela prestasse bem atenção podia ouvir diálogos soltos dos passantes
na rua. O ecoar das palavras era perfeitamente compreensível para quem estava
mais que disposto a escutar. E ela estava.
Podia se perder no martelar das obras, no atrito das rodas dos carros
com o asfalto, nos gritos infantis, nas risadas de pessoas que ela nunca
chegaria a conhecer. Tinha algo de reconfortante em saber que ninguém notava a
sua presença, que ela podia muito bem ser... ninguém. Eram esses pequenos
momentos de paz e solidão que ela apreciava mais que qualquer coisa. Ela
precisava saber que a vida continuava dia após dia, que o mundo jamais pararia
de rodar, que, não importa o que acontecesse, o sol nasceria na manhã seguinte
e sempre haveria um novo começo. Como uma manhã de sábado.
Suspirando uma vez ela pulou da cama e se pôs de pé. Estava preparada
para se juntar àquelas pessoas. Ela também começaria seu dia, sua quase rotina.
Ela também queria ficar alheia ao fato de que simplesmente vivia, podia mergulhar
em algumas horas de descanso de si mesma. Estar atenta a tudo pode ser
cansativo de vez em quando.
Com um sorriso presunçoso ela abriu completamente a janela do quarto,
deixou que os raios de sol beijassem cada pedaço do seu cantinho. Com um
tímido risinho ela acolheu os sons meio irritantes e inteiramente queridos.
Sabia que haveria sempre alguém fazendo barulho em algum lugar relembrando-a de
que não estava tão sozinha assim.
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12 comments
Parece quando eu acordo! Na verdade só a parte de ficar pensando e não querer levantar. Porque o bom humor, e o sorriso a todo tempo, isso não tem como pra mim! Gostei muito do seu texto Laurinha <3
ResponderExcluirBeijinhooos :**
http://diariofemininno.blogspot.com.br/ | http://queridaasmemorias.blogspot.com.br/
Sei como é isso KKK Fico muito feliz que tenha gostado, obrigada <3
ExcluirQue texto lindo , ((:
ResponderExcluirObrigada <3
ExcluirQue lindo! Fico muito feliz quando encontro um blog, que a autora escreve textos que me identifico na hora, amei esse!
ResponderExcluirParabéns. Publique mais escritos assim.
Beijos!
http://thaizamikaella.blogspot.com.br/
Muito obrigada, fico muito feliz que tenha gostado <3
ExcluirVocê escreve muito bem. Adorei seu texto, flor. beijinhos
ResponderExcluirMuito obrigada!!
ExcluirNossa, você realmente escreve muito bem. Que texto inspirador e detalhista. Parabéns! É a primeira vez que eu entro no seu blog e vou ficar por aqui lendo mais textos hiihi.
ResponderExcluirBeijos ;*
http://www.ladystronger.com.br/
Obrigada, de coração! Espero te ver mais vezes aqui no blog <3
ExcluirVocê escreve muito bem! Parabéns! Gostei demais <3
ResponderExcluirMuito obrigada! <3
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