Um desabafo e uma notícia
Eu
estava em um ponto em que nada mais fazia sentido. Vez ou outra - o tempo todo
- a gente se pega sendo encurralada por aquele sentimento cinza e aquela
maldita pergunta: "o que eu vou fazer com o resto da minha vida?" Eu
me via cercada de dois tipos de pessoas, o tipo que tem certeza absoluta do que
quer da vida e que está super contente com tudo e todos, e aquele tipo que está
completa e totalmente desorientado com o rumo de seus dias, que está infeliz
com cada expiração que dá. Por onde eu ia, todos os dias, eu ouvia os dois
extremos. E não era da boca de uma ou outra pessoa, dessa vez não existiam
culpados. Parecia que literalmente todo o lugar em que eu pisava eu era
atingida por algumas palavras; "nossa, estou amando meu curso, meu trabalho, minha rotina, escolhi
certo, me vejo fazendo isso pro resto da minha vida." Ou "o que eu
faço quando odeio tudo isso? Quando só quero desistir de tudo? Não é o curso
que eu quero, não sei o que eu quero, não sei como descobrir. Odeio isso tudo, está tudo errado!"
Eu me via no meio disso tudo sem saber em qual categoria eu me encaixava.
O
problema é que na verdade eu não me encaixava em nenhuma. Não estava apaixonada
pelo meu curso mas não me via fazendo outra faculdade. Não trabalhava ainda então não me sentia motivada por uma rotina diária. Não estava infeliz mas
também não estava contente. Sabia e não sabia. Entendia e não fazia ideia. O
que fazer quando você nem sabe o que fazer e o que não fazer? O que fazer se
você não sabe se ama ou se odeia? Não tinha certeza do que eu estava fazendo
com a minha vida mas também não estava odiando levantar da cama todos os dias.
Eu não sabia se seguia a onda de entusiasmo das pessoas (que na verdade nunca
me atingiu de verdade) ou se me deixava ser sugada pelo desespero e tristeza
que também me eram um pouco familiares. Me vi desorientada.
Como
você conversa com quem não vai te entender? Como você desabafa sobre estar
confusa e insatisfeita com quem está hollywoodianamente
animado? Você puxa a pessoa pra baixo? Ou você conversa com quem está se
sentindo completamente infeliz e faz com que a pessoa fique ainda mais para
baixo por não estar "animada" como você? Não tinha como começar uma
conversa porque nem eu mesma fazia ideia do que estava se passando na minha
cabeça, como iria explicar pra alguém? Eu precisava começar a me entender antes
de tentar me explicar. Não queria conversar com quem não fosse me entender, não
precisava escutar os típicos conselhos que eu poderia simplesmente abrir um
biscoito da sorte qualquer e ler. O problema é que ninguém entendia, ninguém
tinha como entender. E não era por maldade, não era porque as pessoas não
queriam me ajudar. Era só que... Não dava. Ponto.
Além
disso, tinha tanta coisa acontecendo na minha cabeça... Algumas coisas do passado insistem em voltar constantemente. Enquanto nada parecia
acontecer na minha vida e eu me sentia presa no mesmo maldito ponto há anos,
minha cabeça estava – e está – a mil por hora. Ao mesmo tempo em que nada
parecia aparecer de novo, todo dia um pensamento diferente se enraizava na
minha mente. Eu estava desorientada.
Não
sabia se ajudava os outros ou se começava a tentar me ajudar. Não podia ser egoísta
a ponto de deixar de colocar os outros em primeiro lugar como sempre fiz. Ou
podia? Será que era realmente egoísmo pensar em mim? Não queria mais deixar de
fazer aquilo que eu sentia vontade porque não era o que os outros queriam, não
queria mais deixar de falar o que se passava na minha cabeça por medo de deixar
quem eu amava e me importava mais pra baixo. Não queria mais ter que medir cada
vírgula que saia da minha boca por medo de chatear as pessoas. Não queria mais
deixar minhas vontades em segundo plano. Eu tinha a palavra "trouxa"
praticamente tatuada na testa pra quem quisesse ver. Perdi a conta de quantas
vezes pensava e falava essa palavra no dia se referindo a mim. Cheguei no ponto
de nem saber mais o que eu realmente queria porque estava me preocupando demais
com o que os outros desejavam. Eu percebi que sempre abri mão de tudo o que eu
queria pra deixar quem eu amava mais feliz. Mas e a minha felicidade? Onde fica
nisso tudo? Será que eu não merecia ser o centro das atenções só por um instante?
Será que o mundo não podia dar uma voltinha a meu favor? Só queria sentir que
tudo o que eu fazia não era em vão, que eu não estava sozinha no meio dessa
confusão toda. Eu só queria ser feliz por mim mesma, pra mim. É uma coisa tão
ruim assim? Querer ser feliz sem precisar de ninguém?
Foi
pensando nisso, no meio da mais completa desorientação e solidão que alguma
coisa finalmente clicou. Bem lá no fundo da minha mente eu consegui ver uma
luzinha, um brilho que eu estava implorando pra Odin e o mundo me mostrarem.
Acredito
muito em sinais, essa coisa de destino sempre fez muito sentido na minha
cabeça. Várias coisinhas foram acontecendo ao longo dos meus dias e eu não
tinha percebido, mas de repente tudo fez sentido de uma vez. Eu precisava
viajar. E precisava viajar sozinha. Eu pensei em tanta coisa, mas nada fazia
sentido pra mim. Nada. A não ser isso.
Fazia
tempo que eu não me sentia tão entusiasmada com uma coisa. Quando pensei nisso,
ao mesmo tempo em que o frio tomou conta da minha barriga, eu me vi abrindo
sites e mais sites, blogs e mais blogs e quando eu vi estava entrando numa
agência de viagens e olhando preços de passagens. Sempre me virei bem sozinha,
sempre fui muito independente e era constantemente lembrada disso pelos outros.
Quando eu não abria mão de mim mesma, eu era muito boa com as coisas. Era a
hora de provar a minha independência. Eu tinha que provar algo pra mim mesma.
Era o
incentivo que eu tanto precisava. Pela primeira vez em muito tempo eu me vi
entusiasmada, ansiosa e pude sentir algo diferente. Poucos dias antes um grande
amigo me perguntou: "você já mostrou esse brilho que surgiu nos seus olhos
pra alguém?" E eu percebi que precisava daquilo e não sabia o que era.
Pela primeira vez em muito tempo eu estava fazendo planos pra mim, só pra mim,
e isso foi maravilhoso. Eu estava procurando datas que ME satisfizessem, hotéis
que ME agradassem, roteiros que EU queria fazer. Eu estava pensando em mim
mesma. E era fan-tás-ti-co. Me peguei sorrindo pro espelho de novo, pulando pela
casa de excitação, fazendo planos, sonhando!
Tinha
uma viagem pela frente, um lugar pra explorar, pessoas pra conhecer. Tudo da
maneira que eu quisesse. Era assustador, eu estava apavorada em fazer tudo
sozinha. Mas era tão bom... A contradição mais louca e gostosa que eu já senti.
Vou
pra Nova York. Sozinha, apavorada, ansiosa, louca e feliz. Finalmente. Tenho
certeza de que assim que pisar no aeroporto vou pensar "que merda eu tô
fazendo?". Quando a primeira turbulência balançar o avião e não tiver ninguém
conhecido do meu lado pra eu segurar a mão, vou entrar em total e completo
desespero. Sei que vou querer tirar fotos com alguém na frente da Estátua da
Liberdade ou sentir falta de um calor humano quando ver o pôr do sol beijando a
cidade em cima do Empire State Building. Mas também sei o quanto eu preciso
disso e nem sabia. Sei que assim que eu conversar com um desconhecido sem
problemas com a língua, assim que eu sentar num restaurante e ouvir uma boa
música de fundo, ficar parada na frente de um quadro que eu gosto todo o tempo
que eu bem quiser, acordar cedo pra correr no Central Park sem dar satisfações,
vou saber que valeu a pena. Porque tenho certeza de que em alguma esquina
daquela selva de pedra vou me encontrar, nem que seja pra me perder de novo em
seguida. Pode ser a pior viagem do mundo, posso me arrepender e chorar
desesperada e solitária querendo voltar pra casa. Ou pode ser o ponto de virada
da minha vida. Só sei que preciso fazer isso. E preciso fazer isso sozinha.
De
qualquer maneira, boa ou ruim, vou ter histórias pra contar, vou aprender mais
me virando sozinha em outro país do que continuando na mesma monotonia e
estagnação que eu me encontro. Não tenho nada a perder com tudo isso. Medo?
Sempre vou ter de alguma coisa. Solidão? Se eu não gostar da minha própria
companhia, como posso querer que alguém goste? De alguma forma ou de outra, vou
voltar outra pessoa, e é essa pessoa que eu quero conhecer.
Os
olhares de estranhamento que vou receber quando souberem? Tudo bem. As palavras
desestimulantes que vão me jogar? Ok. Sei que nem todo mundo tem essa coragem,
nem todo mundo entende. E não tem problema. No começo desse ano eu fiz uma
promessa pra mim mesma, só uma e que eu constantemente deixei de lado. Até
agora. Eu me basto. Isso não fez sentido. Até agora. Eu me basto. Olhares sou
eu quem tenho que dar. Palavras de estímulo têm que partir de mim mesma. Posso
ser feliz sozinha e não tem nada de errado com isso.
Se foi
bom ou ruim? Me pergunte daqui a algum tempo. Vou descobrir.
Sozinha. Às vezes, quando ninguém te dá a motivação que você tanto precisa,
quando você se sente perdida, você tem que se encontrar em si mesma. Eu me
encontrei.
Boa
viagem pra mim <3
15 comments
Você tem o dom da palavra sabia?
ResponderExcluirAmei seu texto, seus sentimentos são estampados nele de uma forma linda!
Visitarei seu blog mais vezes :)
Um Beijo da Rabêlo ♥
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Muito obrigada, significa muito pra mim! Espero te ver aqui mais vezes então <3
ExcluirBoa viagem. Curta bastante, se joga a essa deliciosa experiência, certeza que quando voltares, certamente não será a mesma! :)
ResponderExcluirhttp://believetempodeacreditar.blogspot.com.br/
Obrigada!! Vou tentar aproveitar ao máximo <3
ExcluirWOOOOOW, que loucura, que coragem!!! Eu também estou numa indecisão infinita sobre o que eu vou fazer com a minha vida, e eu sou tão nova para me preocupar com isso... Não sei o que há de errado comigo.
ResponderExcluirMeu Deus, mas quanto a isso, quanto a você... Nossa, eu tô tão feliz por você ter tido essa coragem que mal consigo descrever. Aproveite muito essa viagem, se você se arrepender, sempre poderá voltar para casa. ''De alguma forma ou de outra, vou voltar outra pessoa, e é essa pessoa que eu quero conhecer.'' Essa frase foi incrível. Toda sorte do mundo para você, seja feliz, Laura! :)
Não tem nada de errado com você, é só que hoje em dia a gente é obrigado a fazer escolhas muito importantes muito cedo. Não é com você, juro.
ExcluirMuito obrigada por esse comentário e por suas palavras, significa muito pra mim! Obrigada, de coração <3
Isso chama-se coragem! Adorei o texto e identifiquei-me muito com ele porque muitas vezes tenho a sensação de que não tenho objetivos concretos (em relação ao curso que vou seguir e ao emprego que vou escolher)... A verdade é que percebo esse sentimento de frustração e apoio a tua decisão de ires para NY! Espero que tenhas uma excelente viagem e que lá consigas descobrir aquilo de que estás à procura. Já agora, escreves muito bem <3
ResponderExcluir~Catline
rapariganoseculo21.wordpress.com
Muito obrigada pelo carinho, a viagem foi fantástica, mais do que eu esperava. Espero que dê tudo certo pra você, que o destino dê um toque na sua rotina que vai mudar tudo ;)
ExcluirSeu texto ficou lindo !
ResponderExcluirSempre fico encantada com suas palavras :)
http://coisasdediane.blogspot.com.br/
Obrigada, significa muito pra mim <3
ExcluirPrimeiro eu pensei "nossa que texto grande", mas depois eu comecei a ler e quando acabou eu super entendi o porque o texto não era pequenininho, porque você tinha muito o que falar e o que desabafar e apesar de não ter passado por isso que você passou só posso dizer uma coisa, viajar sempre resolve, e sobre querer estar com alguém conhecido para ver o pôr do Sol? Você vai conhecer muitas pessoas lá, e isso vai ser incrível! Espero que a sua viagem seja maravilhosa. Beijos
ResponderExcluirhttp://quemtemcerteza.blogspot.com.br/?m=1
Oi Laura! Adorei o blog! Eu quando tinha vinte anos fiz o mesmo, o destino foi outro,Japão. Foram cem dias, de muita ventura,amores e obstáculos. Não me arrependo de nada,valeu cada segundo e guardo com carinho cada momento.
ExcluirEu me vi refletido na sua coragem,determinação e personalidade. Eu também escrevo e quero fazer disso o meu ganha pão. Boa sorte!
http://www.marcellivros.com.br/
http://marcelaokicinema.blogspot.com.br/
Realmente, tentei encurtar o texto antes de postar mas não consegui ahaha Muito obrigada pelo carinho, foi a viagem da minha vida, juro!
ExcluirSua aventura foi mais corajosa que a minha, deve ter sido incrível! Se quiser me contar mais a respeito estou à disposição ;) A gente acaba se conhecendo nessas viagens, se encontrando em lugares e pessoas que a gente nunca pensou que conheceria, né? É difícil explicar assim.
ExcluirMuito obrigada por comentar, sempre fico feliz em conhecer pessoas com os mesmos gostos e sonhos, faz crescer a alma <3
Gostei do seu texto, Laura. Já me peguei muitas vezes na mesma situação que você, na época não sabia o que eu realmente queria e o que estava fazendo pois estava numa fase de adolescente rebelde. Hoje estou com 22 anos e estou me sentindo da mesma maneira que me sentia quando era adolescente, porém, hoje eu sei que o lugar que eu estava era o lugar certo pra eu ficar, que toda a minha rotina era a rotina que me fazia bem mas eu não percebia. Hoje eu trabalho mas me sinto presa aqui porque não é o local que eu quero continuar morando, vivo uma vida que não é a que eu quero pra sempre. Quero tomar atitudes radicais, do tipo seguir meu caminho, ter minha casa, me mudar e se tiver que passar um perrengue, eu passo. Pois agora sei o que realmente me faz bem e o local em que eu me encontrei! ❤
ResponderExcluirEstou seguindo seu blog, amei aqui e o conteúdo!
http://jaquedelua.blogspot.com.br/