Pages

22 de fev. de 2015

Muda pra praia comigo?


            Sabe, querido... Esses dias, entre mais uma troca de cores no céu, algumas imagens dançaram em minha mente.
            Eu estava pensando naquelas praias desertas, secretas e escondidas, como você mesmo já mencionou certa vez. A gente podia construir nossa casinha daquele jeito em que sonhamos acordados de vez em quando. Nosso paraíso particular a alguns passos do mar, logo na areia, com um quintal improvisado na parte de trás e uma varanda de madeira ocupando toda a frente do nosso cantinho. Dois andares modestos com cômodos pequenos e simples, com um quarto quadradinho e aconchegante, mas com um banheiro um tanto quanto extravagante. Com uma banheira com vista para o mar e aquelas janelas gigantescas que você jurou que me daria um dia.
A gente nem precisa de tanta coisa, me contentaria com uma televisão meia-boca só para nos entreter quando o clima não permitir e depois de ter ouvido a sua bronca por querer fazer algo tão infantil quanto ficar lá fora na chuva. A gente podia ter uma rede na varanda. Eu sei que você sempre quis ter uma daquelas redes enormes, mas posso confessar um segredo? Prefiro aquelas normais, pequeninas mesmo, só pra você ter que me espremer entre as suas pernas e sobre seu peito, pra você não ter escolha a não ser passar os braços em volta de mim. Mas se for pra convencer você a se mudar pra praia comigo, aceito a rede maior, vou dar um jeito de me aconchegar em você de qualquer maneira, você sabe que sou boa nisso.
Se você aceitar morar na praia comigo, vai poder ter aquele jipe que sempre me mostrou nos catálogos, eu nem gosto mesmo. Juro que não reclamo do vento no cabelo quando você me arrastar para algumas voltas. Até deixo de insistir em pegar no volante também só pra manter esse sorriso leve no seu rosto. Se você aceitar morar na praia comigo juro que tento não reclamar tanto do calor, até te faço companhia pra caminhar durante o dia se você prometer dançar comigo na areia de noite. Deixo você me arrastar pra fora pra ver a lua; vou tremer com o frio do vento e sorrir pro calor do seu abraço. Vamos ter um lugar pra colocar aquele telescópio antigo do seu avô, a gente observa o céu enquanto você me mostra as estrelas jurando que sabe do que está falando e eu juro que acredito. Se você acender aquela fogueira que uma vez me confessou que sabia fazer, prometo me enroscar em você. Contanto que você toque alguma coisa na sua gaita também, claro. Posso até te fazer rir com minha voz enferrujada e minhas notas desafinadas. Você adora rir da minha empolgação.
Preciso de um espaço para os meus livros, uma estante qualquer ao lado da sua poltrona favorita. Se você cumprir a promessa de ficar sem camisa o dia inteiro, leio em voz alta algum trecho dos meus romances bobos, aqueles que você morre de ciúmes. Prometo deixar sempre no sofá o cobertor que você tanto ama, faço também o sacrifício de comprar algumas cervejas que você, por mim, finge não gostar. Não me incomodo tanto assim, não sendo você.
Vamos morar na praia? A gente faz amor no mar ou se preferir deixamos o romance de lado e só nos agarramos na areia mesmo. Fica me vendo fazer yoga na areia? Eu deixo você rir de mim nas vezes em que eu cair, contanto que você me dê um beijo e me pergunte se doeu. Fico um dia inteiro só usando uma camisa branca qualquer. Deixo você me molhar o quanto quiser, seu olhar intenso vale qualquer coisa. A gente realiza o sonho de ter dois cachorros grandes correndo por aí, te provaria que não sou uma mulherzinha e construiria eu mesma a casinha deles. Bom, pelo menos eu tentaria. Você acabaria tendo que intervir às gargalhadas e terminaria o trabalho, mas pelo menos meu ponto estaria provado. Até te daria um pug pra ficar roncando pela casa, nunca vi um homem do seu tamanho gostar de um bichinho desses.
Prometo me desdobrar na cozinha mesmo não tendo talento nenhum pra isso, você bem sabe. Prometo ser paciente em toda a minha impaciência, ser mais calma em meio a toda a minha tempestade interior. Tenho certeza de que a gente se encontra no meio de toda a nossa contradição.
Quero ver meu esmalte escuro se desfazendo facilmente por causa da maresia. Quero sentir o cheiro do oceano na sua pele, ver o brilho das ondas no seu sorriso e ouvir a mais pura beleza na sua risada alta e grossa. Quero me encontrar em seus braços em baixo de um pôr do sol salgado e sentir o gosto do mar na sua língua. Nua sob seu corpo, despida de qualquer melancolia. Me permite esse devaneio doce e morno? Esse amor azul e fresco? Essa vontade aguda e quente? Então, querido, muda pra praia comigo?

7 comentários: