O
cheiro de biscoitos e comida no forno aqueciam a cozinha e sua ansiedade. Ela
pulava nas almofadas e o banco rangia, só faltava escalar a mesa para o
desespero de sua mãe e de sua avó. Ela olhava para fora da janela tentando
enxergar algo na escuridão através dos grossos flocos de neve.
A
cozinha ainda estava relativamente vazia. Sua mãe ajudava sua avó a terminar de
preparar a grande ceia da noite, seu pai zanzava pela casa observando tudo e
seu avô sentava imponente na cabeceira da mesa. Logo a casa estaria cheia e
barulhenta; ela mal podia esperar.
Seu
avô, percebendo a ansiedade da pequena, tentou distraí-la. Esticou seu único
braço e pegou três nozes com sua mão. Sua mão era grande e seus dedos grossos e
fortes, não demorou muito para capturar a atenção da neta. Em questão de
segundos um estalo forte preencheu o relativo silêncio da cozinha e ela viu
estupefata as três nozes rachadas e abertas na mão do velho. Correu com suas
perninhas pelo banco até chegar ao avô e pediu, como só crianças sabem, para
que ele repetisse o ato de novo e de novo. Tentou fazer o mesmo mas nem com as
duas mãos conseguia fazer força. Pronto, ela estava distraída.
A
neve caía grossa e constante do lado de fora. Aquele seria um inverno longo e
rigoroso. Com certeza a autobahn
estaria arisca nos dias seguintes, mas ela sabia que muita neve significava
muitos bonecos de neve e vizinhos construindo iglus em que ela poderia entrar
para brincar.
–
Acho que ele chegou – Ela ouviu sua avó dizer em alemão.
A
menina saltitou no banco derrubando algumas almofadas e correu até a janela.
Faróis altos e grandes se aproximaram o enorme celeiro e o som grave do caminhão
cessou. Ela não conseguiu enxergar muito naquele breu, mas alguns instantes
depois viu um vulto se aproximando da porta. Ela deu um gritinho infatil e
pulou do banco correndo em direção à porta da cozinha. Pôde ouvir os sons das
botas pesadas sendo tiradas e deixadas de lado e de todos os casacos de inverno
sendo pendurados.
Quando
seu tio abriu a porta da cozinha, ele só teve tempo de cumprimentar os outros
com sua voz grossa antes que a menina puxasse a barra de sua camisa tentando
conduzí-lo até a sala. Seu pai riu e foi atrás dos pequenos cabelos loiros
saltitantes. Sua avó pegou o telefone e, logo após encerrar a ligação, empurrou
a cadeira de rodas do avô até a sala do carpete verde.
Alguns
minutos depois outro tio chegou e finalmente a menina pôde comemorar e ficar
plenamente feliz. Um pinheiro gigantesco aos seus olhos estava esperando por
eles na sala. Seus galhos finos abraçavam o tronco que ia até o teto, era uma
imensidão. Seu tio mais alto pegou a menina e colocou-a sobre os ombos. Era
hora de montar a árvore.
Durante
as horas seguintes, os três homens e a garotinha enfeitaram o pinheiro sob a
supervisão do avô. Foi preciso uma escada bem alta e muitas e muitas caixas de
enfeite para vestir o pinheiro. O verde e o marrom que antes predominavam,
ficaram mais esbeltos com os enfeites de todas as cores que ela podia imaginar
e ficaram mais felizes por causa dos fios intermináveis que faziam os galhos
piscarem cheios de cor. Para ela, nunca era o suficiente, a árvore precisava
estar mais decorada e colorida, tinha que ser a mais bonita de todas para
agradar o velhinho de vermelho que chegaria mais tarde naquela noite.
Mesmo
depois de ter colocado todos os enfeites empoeirados, ela ainda podia sentir o
cheiro inigualável do pinheiro vivo. E o cheiro de comida que vinha da cozinha
só melhorava. Ela não percebeu durante o tempo que passou ali, mas agora a casa
já estava enchendo e alguns espectadores haviam se reunido na sala para
observar a árvore sendo enfeitada.
Quando o trabalho por fim estava feito, todos voltaram
para a cozinha para beber e começar a comer; menos ela. A garotinha ficou parada
por um tempo admirando o pinheiro várias vezes maior que ela. Ele brilhava e
piscava e era simplesmente maravilhoso. Para a pequena, ele era a coisa mais
linda que ela já tinha visto.
O som das conversas e risadas na cozinha ficou mais alto,
mas ela ainda demorou um tempinho para voltar pra lá. Sentou no carpete e, debaixo
da árvore, ficou pensando que seria ali que seus presentes logo estariam. Ela
mal podia esperar. Olhou para a lareira e viu satisfeita que as meias também
estavam devidamente posicionadas na parede. Tudo estava perfeito.
Ouviu
as vozes de seus primos e saltitou para a cozinha sem olhar para trás. O cheiro
de comida pronta e servida também foi um belo atrativo. Sentou-se junto às
outras crianças em meio ao mundo de brinquedos no chão da cozinha e esqueceu-se
da árvore; agora tinha outras prioridades.
Na
sala do carpete verde o majestoso pinheiro ecoava os sons vindos da cozinha.
Suas luzes e enfeites iluminavam o cômodo enquanto alguns flocos de neve caíam
e tentavam se agarrar ao vidro da janela para admirar as cores e beleza daquele
lugar e daquela véspera de Natal.
Essa é a minha lembrança de um dos meus Natais com a minha família, você tem alguma marcante também? Me conta!
Desejo a todos um feliz Natal, que aonde quer que você passe, que passe com pessoas que você ama e que te amam também. Desejo uma noite muito aconchegante e colorida. Feliz Natal <3
A neve era real ou foi algo para complementar a lembrança? Sério, essa dúvida está me matando aqui! Meu sonho é passar o Natal em um lugar que esteja totalmente coberto de gelo. E pra melhorar teria que estar comendo biscoitinhos de gengibre com formas natalinas, hahaha'. Tenho várias lembranças de Natal e me identifiquei muito com a sua ansiedade. A hora dos presentes, né? Adorei <3 Beijos, Light As The Breeze
ResponderExcluirA neve foi real, foi um dos Natais que passei com a minha família na Alemanha. Muito obrigada por comentar, espero que volte sempre ;)
Excluirestou apaixonada pelo post, pelo blog, por tudo aqui! Já estou seguindo ♥
ResponderExcluirque lindo o texto, meu sonho passar um Natal rodeada de neve, enfim, escrita belíssima.
beijão!
Zombie Effect