Os livros da
Intrínseca me fazem sair da minha zona de conforto. As histórias são diferentes
e únicas e sempre me fazem questionar alguma coisa. O Jantar foi uma leitura um
tanto quanto complexa e difícil de ser explicada.
"Em
uma noite de verão, dois casais se encontram em um restaurante elegante. Entre
um gole e outro de vinho e o tilintar de talheres, a conversa mantém um tom
gentil e educado, passando por assuntos triviais como o preço dos pratos, os
aborrecimentos do trabalho, o próximo destino de férias. Mas as palavras vazias
escondem um terrível conflito, e, a cada sorriso forçado e cada novo prato, o
clima fica ainda mais tenso.
Cada
casal tem um filho adolescente. Juntos, os meninos fizeram algo horrível, e o
encontro tem como objetivo decidir o futuro. Não apenas dos jovens e de suas
famílias, mas talvez até mesmo o futuro político do país. Quando afinal o prato
principal é servido, o assunto que os leou até ali também chega à mesa. E, à
medida que a civilidade e o tom amigável se esvaem, cada um dos convidados vai
mostrar quão longe é capaz de ir para proteger aqueles que ama."
Tenho
que ser honesta e dizer que o livro O Jantar foi difícil de ler. Por vários
motivos.
A
ideia de que um livro inteiro seria escrito com base num intervalo de mais ou
menos duas horas, é nova para mim. Estou acostumada a ler livros que se baseiam
em dias, semanas e até mesmo anos. O livro ganhou pontos comigo por causa
disso, pra mim foi uma inovação.
A
história é dividida em cinco partes: Aperitivos, Entrada, Prato Principal,
Sobremesa e Digestivo. É narrada por Paul Lohman, marido de Claire. O jantar é
um encontro entre os dois e o irmão de Paul, Serge, e sua esposa Babette. Eles
se encontram em um restaurante caro – Paul passa alguns bons parágrafos
dissertando a respeito dos preços exorbitantes do lugar escolhido pelo irmão –
e chamam atenção por causa de Serge. Ele é um político conhecido e candidato
praticamente já eleito. Assim que Babette entra com os olhos levemente inchados
como quem chorou recentemente, Paul percebe que não será uma noite fácil.
A
narrativa se baseia em narrações sobre banalidades. É uma narrativa
extremamente detalhada; Paul faz reflexões que vão desde o dedo mindinho do
gerente apontando e explicando cada prato do cardápio até seus pensamentos
sobre questões culturais da Holanda. É preciso muita atenção durante a leitura
uma vez que Paul cita acontecimentos de meses ou anos atrás para justificar
algum pensamento que lhe veio à mente. A princípio, achava que essas lembranças
não seriam tão relevantes ao final da narrativa, mas são. Mesmo a leitura se
arrastando bastante nessas momentos, é preciso estar atento aos detalhes. Paul,
que no começo passa a impressão de ser o mais pé no chão de todos ali à mesa,
ao longo da leitura revela lembranças duras e surpreendentes a respeito de ações
passadas.
O
encontro gira em torno de um problema envolvendo os filhos adolescentes dos
casais. À mesa, não estão os pratos, está o destino de seus filhos e o futuro
político de Serge. Por isso, cada um tem uma opinião diferente sobre o que
fazer a respeito do escândalo que possuem em mãos. De acordo com Paul, a família
dos irmãos sempre tentou fazer tudo parecer perfeito, como se fossem as pessoas
mais felizes do mundo, e isso fica claro durante as tentativas de decidir o
problema.
O
Jantar ganhou pontos por fazer o leitor entrar na mente de Paul. É um thriller
completamente psicológico, me fez lembrar um pouco de A Mulher Silenciosa por
conta da profundidade dos pensamentos envolvidos. No começo, o leitor pensa que
está perfeitamente ciente dos rumos da história, mas Paul começa a se revelar
e, de repente, você se vê perdido em pensamentos um tanto quanto obscuros e
realistas. Esse é outro ponto forte do livro; tudo o que acontece na narrativa é
perfeitamente plausível de acontecer na realidade. O livro me fez perguntar
constantemente o que eu faria se estivesse naquela situação. Entra em xeque questões
de certo x errado. Você se pergunta o que faria se estivesse na pele de um dos
meninos ou de um dos pais.
Algumas
coisas ficam claras a respeito da personalidade dos personagens: busca da
perfeição; isso é percebido desde a escolha do restaurante até a tentativa de não
mostrar lágrimas secas e cobrir os olhos inchados. Egoísmo; essa é, talvez, a
questão mais importante do livro uma vez que o grande dilema gira em torno de
fazer o que é certo ou proteger a si mesmo. Aspecto calculista; tanto Paul
quanto Claire se mostram extremamente inteligentes, frios e controlados. Suas
decisões são tomadas apenas após certa meditação e pensamento crítico a
respeito.
O
Jantar é um livro um tanto quanto perturbador do ponto de vista psicológico. Ao
ser apresentado ao o interior da mente de Paul, questionamentos éticos a
respeito da influência dos pais vêm à mente. É um livro capaz de te fazer
repensar algumas coisas e te enfurecer a respeito de outras. Faz o leitor
pensar em quanta coisa ele não seria capaz de jogar para debaixo do tapete como
fazem os personagens e faz refletir sobre a influência do comportamento dos
pais na criação dos filhos.
A
escrita do autor não é complicada, é fácil de ser lida e bem detalhada. O que
fez o livro perder alguns pontos comigo foram as banalidades. Elas são
importantes sim para o enredo como um todo, mas nesse caso fizeram com que a
narrativa não ficasse tão envolvente assim. Li muitos comentários positivos a
respeito da narrativa e da história e várias classificações 5/5. Gosto de histórias
um pouco mais objetivas, daquelas que vão direto ao ponto ou que, se preciso
for, detalhem bastante mas que te prendam de forma irrefutável. Isso não
aconteceu comigo. Minha classificação é completamente subjetiva nesse caso.
O
Jantar é uma indicação imediata para quem adora thrillers psicológicos. Se
fosse meu estilo de livro, com certeza absoluta ganharia cinco estrelas, porque
o livro é extremamente inteligente do ponto de vista psicológico. Mas, se você
não for tão fã, vale a pena ler com ressalvas, com calma. Apesar de tudo, o
livro com certeza vai deixar alguns questionamentos na sua mente. Deixou em
mim.
O
jantar foi escrito por Herman Koch
e publicado no Brasil pela editora Intrínseca.
Classificação: 3/5
estrelas.
“Claire e eu. Claire,
Michael e eu. Partilhávamos algo. Algo que não estivera ali antes. Certo, não
partilhávamos todos a mesma coisa, mas talvez isso não seja necessário. Você não
precisa saber tudo sobre o outro. Segredos não impedem a felicidade.
Pensei sobre aquela
noite, depois de nosso jantar. Eu ficara um tempo sozinho em casa antes que
Michael chegasse. Em nossa sala de estar há uma antiga arca de madeira com gavetas
onde Claire guarda suas coisas. No mesmo instante em que abria a primeira
gaveta, tive a sensação de que iria fazer algo de que iria me arrepender
depois.”.
Gostou da resenha?
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Achei a resenha super bem feita e amei o blog,seguindo já <3 Dá uma olhada no meu blog e se gosta segue por favor querida http://cartolavintage.blogspot.com.br/
ResponderExcluirUm livro com o intervalo de duas horas? Esse eu quero ler!
ResponderExcluirParabéns pela escrita e resenha. A forma com que você resenhou o livro me fez querer compra-lo mais ainda!
Abraços,
a-marquesa.blogspot.com.br