O livro A
mulher silenciosa estava me perseguindo há algum tempo. O Skoob fazia muitas
propagandas, as livrarias estampavam posters
gigantes e a maioria das críticas exaltava o enredo fascinante.
A história me
deixou bastante curiosa e quando vi que estava nos lançamentos de abril da
Intrínseca, decidi que já era hora de dar uma chance ao livro.
"Jodi e Todd estão juntos há 20 anos e,
aparentemente, levam uma vida invejável. Todd é um empreiteiro bem-sucedido que
pode bancar alguns luxos, como o enorme apartamento com uma vista deslumbrante
para o lago, um Porsche (dele) e um Audi (dela) na garagem, e o estilo de vida
de Jodi. Psicoterapeuta, ela atende em casa apenas dois clientes por dia, e tem
tempo de sobra para as sessões de pilates, as aulas de arranjos florais, os
passeios com Freud, o golden retriever do casal, e o preparo das refeições
gourmet de que tanto gosta. Jodi ainda fica ansiosa ao ouvir a chave do marido
abrindo a porta. Todd diz que nunca encontrará uma mulher igual a ela. Essa
fachada perfeita, porém, está prestes a ruir. Todd é um adúltero incurável, e
Jodi sabe disso. Ela é a esposa silenciosa, preparada para tolerar as traições
do marido com o intuito de manter as aparências. Até que Todd sai de casa -
para viver com uma mulher com metade da idade dela, filha de seu melhor amigo.
Magoada, humilhada e, por fim, financeiramente abalada, Jodi começa a
contemplar o assassinato como uma opção razoável.”
Confesso que
criei muitas expectativas para com o enredo. A ideia de que a história se
baseia em como Jodi planejaria o assassinato de Todd me pareceu fascinante. Mas
ao longo da leitura percebi que o objetivo da narrativa não era bem esse.
O livro é
dividido em capítulos que se revezam entre “ele” e “ela”. A história é narrada
em terceira pessoa, deixando bem claro o modo de pensar dos dois protagonistas,
o que é muito interessante. A.S.A. Harrison conseguiu descrever de maneira
exemplar o que se passa na cabeça de Todd e Jodi sem mediocridade ou
superficialidade. A narrativa é bem interessante porque não contém muitos
diálogos e o enredo se baseia mais no psicológico dos personagens. Finalmente
entendi porque as pessoas diziam que o livro é um thriller psicológico.
Desde a
primeira página já consegui perceber a peculiaridade de Jodi. É uma mulher
extremamente introspectiva e faz jus ao título do livro. Ela se dedica
inteiramente ao seu marido e releva todos os antigos casos de seu Todd. Jodi
sabe que ele é um adúltero e nunca se importou de verdade com isso porque sabia
que ela era uma constante em sua vida. A maneira como ela pensa e age te coloca
no papel de psicóloga. Jodi não é uma mulher fácil de decifrar e nem o próprio
marido conhece sua mulher direito.
Todd me
irritou bastante. Ele é um adúltero nato e acredita que a monogamia não existe
para os homens. Ao longo da história inteira, Todd se faz de vítima em diversos
momentos e age como se o mundo devesse ser colocado aos seus pés. Ele se sente
mal por Jodi quando se envolve com Natasha, mas se sente tão vivo nesse novo
relacionamento que pensa que pode ser perdoado apenas por isso. Todd sabe que
tem em casa uma mulher quase perfeita, mas seu instinto de buscar fora do lar
algum consolo para suas necessidades masculinas é maior do que seu amor por
Jodi.
Jodi
eventualmente descobre o último e atual romance de seu marido e faz o que
praticamente nenhuma mulher faria: aceita e age normalmente apenas esperando
que ele supere o caso e siga em frente. Isso me incomodou bastante e me deixou
intrigada, o que me fez passar as páginas do livro com mais facilidade. Jodi é
uma mulher extremamente fria e calculista. Algo admirável, mas o mesmo tempo
inquietante.
Ela não se
mostra vingativa e permanece como gelo até as últimas páginas do livro. Raramente
perde a compostura e isso me assustou. Ele vê a vida como ela conhece caindo
aos pedaços e continua uma pedra. Admirei muito essa característica da
protagonista e busquei ao longo da narrativa inteira, momentos em que seus
sentimentos afloraram.
Não posso
dizer que o enredo não é envolvente, porque é. A expectativa que se cria de que
Jodi vai explodir em algum momento faz a leitura ser envolvente e faz com que a
dúvida te corroa por dentro até a última página. A mulher silenciosa foi uma
leitura nova para mim e não me arrependo de ter experimentado essa nova história.
Algo que me
incomodou foi o fato de que a cogitação de assassinato só apareceu mais no
final do livro e não no começo ou meio como eu esperava. Senti que no final da
narrativa tudo começou a acontecer rápido demais e não foi tão bem detalhado
como nos padrões das primeiras páginas. Acho que a autora poderia ter explorado
um pouquinho mais o dilema de Jodi para com seu marido nesse sentido.
Ao longo da
narrativa fiquei oscilando sem saber se estava adorando a história ou ficando
irritada e acho que isso foi o que atiçou a minha curiosidade. O livro é bem
escrito e devo dar os parabéns para A.S.A. Harrison por conseguir descrever com
exatidão a mente dos protagonistas, isso não é algo fácil de fazer. Fiquei
confusa por causa da maneira exemplar com que ela trabalhou a mente dos
personagens e no vazio que ficou no enredo. A mulher silenciosa ganha no
quesito psicológico e perde no quesito enredo. Algo que descreve o livro com
exatidão é: amor e ódio. Você oscila durante a leitura constantemente.
Para quem
gosta de análises psicológicas e um enredo baseado em questões da psique, A
mulher silenciosa é uma leitura certa.
A mulher silenciosa foi escrito por A.S.A. Harrison e publicado no Brasil pela editora Intrínseca.
Classificação: 3/5
estrelas.
“Todo psicólogo
sabe que não é o evento em si, mas como a pessoa reponde a ele, o que conta a
história. Pegue dez indivíduos variados, exponha-os às mesmas experiências de
vida e cada um deles as permeará com significados e detalhes pessoas
requintados. Jodi é aquela que nunca voltou a penasr no assunto. Nem uma vez.
Nunca.”
Gostou
da resenha? Já leu o livro ou ficou com vontade de ler? Não deixe de comentar!
Nenhum comentário:
Postar um comentário