Resenha: A mulher silenciosa

by - 16:03


O livro A mulher silenciosa estava me perseguindo há algum tempo. O Skoob fazia muitas propagandas, as livrarias estampavam posters gigantes e a maioria das críticas exaltava o enredo fascinante.
A história me deixou bastante curiosa e quando vi que estava nos lançamentos de abril da Intrínseca, decidi que já era hora de dar uma chance ao livro.

"Jodi e Todd estão juntos há 20 anos e, aparentemente, levam uma vida invejável. Todd é um empreiteiro bem-sucedido que pode bancar alguns luxos, como o enorme apartamento com uma vista deslumbrante para o lago, um Porsche (dele) e um Audi (dela) na garagem, e o estilo de vida de Jodi. Psicoterapeuta, ela atende em casa apenas dois clientes por dia, e tem tempo de sobra para as sessões de pilates, as aulas de arranjos florais, os passeios com Freud, o golden retriever do casal, e o preparo das refeições gourmet de que tanto gosta. Jodi ainda fica ansiosa ao ouvir a chave do marido abrindo a porta. Todd diz que nunca encontrará uma mulher igual a ela. Essa fachada perfeita, porém, está prestes a ruir. Todd é um adúltero incurável, e Jodi sabe disso. Ela é a esposa silenciosa, preparada para tolerar as traições do marido com o intuito de manter as aparências. Até que Todd sai de casa - para viver com uma mulher com metade da idade dela, filha de seu melhor amigo. Magoada, humilhada e, por fim, financeiramente abalada, Jodi começa a contemplar o assassinato como uma opção razoável.”

Confesso que criei muitas expectativas para com o enredo. A ideia de que a história se baseia em como Jodi planejaria o assassinato de Todd me pareceu fascinante. Mas ao longo da leitura percebi que o objetivo da narrativa não era bem esse.
O livro é dividido em capítulos que se revezam entre “ele” e “ela”. A história é narrada em terceira pessoa, deixando bem claro o modo de pensar dos dois protagonistas, o que é muito interessante. A.S.A. Harrison conseguiu descrever de maneira exemplar o que se passa na cabeça de Todd e Jodi sem mediocridade ou superficialidade. A narrativa é bem interessante porque não contém muitos diálogos e o enredo se baseia mais no psicológico dos personagens. Finalmente entendi porque as pessoas diziam que o livro é um thriller psicológico.
Desde a primeira página já consegui perceber a peculiaridade de Jodi. É uma mulher extremamente introspectiva e faz jus ao título do livro. Ela se dedica inteiramente ao seu marido e releva todos os antigos casos de seu Todd. Jodi sabe que ele é um adúltero e nunca se importou de verdade com isso porque sabia que ela era uma constante em sua vida. A maneira como ela pensa e age te coloca no papel de psicóloga. Jodi não é uma mulher fácil de decifrar e nem o próprio marido conhece sua mulher direito.
Todd me irritou bastante. Ele é um adúltero nato e acredita que a monogamia não existe para os homens. Ao longo da história inteira, Todd se faz de vítima em diversos momentos e age como se o mundo devesse ser colocado aos seus pés. Ele se sente mal por Jodi quando se envolve com Natasha, mas se sente tão vivo nesse novo relacionamento que pensa que pode ser perdoado apenas por isso. Todd sabe que tem em casa uma mulher quase perfeita, mas seu instinto de buscar fora do lar algum consolo para suas necessidades masculinas é maior do que seu amor por Jodi.
Jodi eventualmente descobre o último e atual romance de seu marido e faz o que praticamente nenhuma mulher faria: aceita e age normalmente apenas esperando que ele supere o caso e siga em frente. Isso me incomodou bastante e me deixou intrigada, o que me fez passar as páginas do livro com mais facilidade. Jodi é uma mulher extremamente fria e calculista. Algo admirável, mas o mesmo tempo inquietante.
Ela não se mostra vingativa e permanece como gelo até as últimas páginas do livro. Raramente perde a compostura e isso me assustou. Ele vê a vida como ela conhece caindo aos pedaços e continua uma pedra. Admirei muito essa característica da protagonista e busquei ao longo da narrativa inteira, momentos em que seus sentimentos afloraram.
Não posso dizer que o enredo não é envolvente, porque é. A expectativa que se cria de que Jodi vai explodir em algum momento faz a leitura ser envolvente e faz com que a dúvida te corroa por dentro até a última página. A mulher silenciosa foi uma leitura nova para mim e não me arrependo de ter experimentado essa nova história.
Algo que me incomodou foi o fato de que a cogitação de assassinato só apareceu mais no final do livro e não no começo ou meio como eu esperava. Senti que no final da narrativa tudo começou a acontecer rápido demais e não foi tão bem detalhado como nos padrões das primeiras páginas. Acho que a autora poderia ter explorado um pouquinho mais o dilema de Jodi para com seu marido nesse sentido.
Ao longo da narrativa fiquei oscilando sem saber se estava adorando a história ou ficando irritada e acho que isso foi o que atiçou a minha curiosidade. O livro é bem escrito e devo dar os parabéns para A.S.A. Harrison por conseguir descrever com exatidão a mente dos protagonistas, isso não é algo fácil de fazer. Fiquei confusa por causa da maneira exemplar com que ela trabalhou a mente dos personagens e no vazio que ficou no enredo. A mulher silenciosa ganha no quesito psicológico e perde no quesito enredo. Algo que descreve o livro com exatidão é: amor e ódio. Você oscila durante a leitura constantemente.
Para quem gosta de análises psicológicas e um enredo baseado em questões da psique, A mulher silenciosa é uma leitura certa.  

A mulher silenciosa foi escrito por A.S.A. Harrison e publicado no Brasil pela editora Intrínseca.

Classificação: 3/5 estrelas.

“Todo psicólogo sabe que não é o evento em si, mas como a pessoa reponde a ele, o que conta a história. Pegue dez indivíduos variados, exponha-os às mesmas experiências de vida e cada um deles as permeará com significados e detalhes pessoas requintados. Jodi é aquela que nunca voltou a penasr no assunto. Nem uma vez. Nunca.”



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