Resenha: A Graça da Coisa
Já fazia algum
tempo que eu queria ler mais algum livro nacional (deixando pré conceitos de
lado) e amo ler e escrever crônicas. Juntando tudo isso, aproveitei para ler
meu primeiro livro da Martha Medeiros, uma coletânea de suas crônicas: A Graça
da Coisa.
“Passar pela vida à toa é um desperdício imperdoável. Que o mundo está
uma doidice sem tamanho não é preciso dizer. Que estamos cada vez trabalhando
mais, ficando mais tempo no celular e no trânsito, nem se fala. Então como sobreviver,
ou melhor, como viver em meio a este caos que se transformou a nossa vida? Para
Martha Medeiros, a grande questão é se desapegar daquilo que é desnecessário,
que nos faz mal, que nos atrasa, e enxergar a graça da coisa - sendo a 'coisa',
no caso, a própria vida. É deixar ideias pré-concebidas de lado, saber rir de
si mesmo, se reinventar; estar aberto para encontrar o amor onde menos se
espera, é transformar a ansiedade em sabedoria, é saber ouvir, é um conjunto de
pequenas atitudes que, se colocadas em prática, vão nos ajudar a levar uma vida
mais desestressada e, de quebra, nos surpreender. Reverenciando a tradição da
crônica brasileira, Martha Medeiros fala cara a cara com o leitor, mostrando
que não estamos sozinhos nas nossas neuroses diárias. Esta coletânea de oitenta
textos que abordam os temas mais caros à autora - o amor, o cinema, os
relacionamentos, as relações familiares, entre muitos outros - traz, sem
dúvida, alguns dos assuntos sobre os quais mais nos indagamos hoje em dia - um
prato cheio para o autoconhecimento.”
Espero
algum dia conseguir escrever crônicas tão boas sobre os assuntos mais banais de
todos como Martha Medeiros faz. Ela consegue transformar o barulho da obra na
rua e a falha na tentativa de fazer uma baliza em textos reflexivos e honestos.
É um talento de poucos.
O
livro A Graça da Coisa é uma coletânea de mais de 80 crônicas da autora e todas
são baseadas em fatos corriqueiros e que qualquer um pode se relacionar. Martha
Medeiros coloca em pauta sentimentos e pensamentos que nunca haviam passado por
mim antes e que com certeza não vou mais esquecer. É genial como ela consegue
dissertar sobre terapia, livros ou filmes que lhe agradaram, gostar ou não da
natureza, etc. Os assuntos mais simplórios do nosso dia a dia viraram
inspiração e se transformaram em crônicas curtas e muito bem escritas.
É
possível perceber ao longo da leitura como a autora tem convicção e entende do
que está falando. As referências por si só já mostram uma escritora culta e
inteligente como Martha Medeiros é. No quesito crônica, sua escrita
definitivamente virou um guia para mim, que quero, se possível virar cronista
um dia.
As
crônicas são bem humoradas, mas algumas com um toque de sentimentalismo
delicioso. Sua maneira de ver o mundo é elegante e ao mesmo tempo poderia
representar o pensamento de qualquer um que se desse ao direito de observar os
pequenos detalhes do dia a dia de maneira mais poética.
Separei
as 18 crônicas que mais gostei:
♦ Barulhos urbanos
♦ Ser feliz ou ser livre
♦ Eu não passarinho
♦ Quando menos se espera
♦ Autoajuda
♦ O que acontece no meio
♦ Natal para ateus
♦ A mulher e o GPS
♦ Último pedido
♦ O encurtamento das durações
♦ De onde surgem os amores
♦ Corpo interditado
♦ Pequenas felicidades
♦ Nós
♦ Deus em promoção
♦ Dialogando com a dor
♦ A mesa da cozinha
♦ O Michelangelo de cada um
Para
quem gosta de ler crônicas, A Graça da Coisa é indispensável na sua estante.
A Graça da Coisa foi escrito por Martha Medeiros e publicado pela L&PM Editora.
Classificação: 5/5
estrelas.
“Estou onde estou, fisicamente,
mas também não estou: invento meu próprio lago, pátio, horizonte. Até que volto
a ser atingida pela consciência do inevitável: não é o barulho do mar que escuto,
nem o das folhas caindo nesse final de outono, e sim o de betoneiras,
perfuratrizes, compactadores, rolos compressores. De poético, me restou apenas
a chuva. Quando chove, a obra para. Quando chove, o helicóptero some. Quando
chove, o silêncio me pisca o olho: “Aproveita a trégua e me escuta”.
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1 comments
Muito boa resenha, parabéns!
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